Laços Capítulo Quinze

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Carly estava decidida a voltar para casa, mas Lucy acabou convencendo-a a ficar até o Natal. André e Clarice tinham começado a namorar e o assunto de Angélica e Sílvia girava em torno do futuro casamento. Sentindo-se pouco à vontade com todas as reuniões com os Schutt, Carly foi para a Fazenda. Rosana ficou muito feliz, assim como Rosa. Carly era completamente apaixonada pelo filho de Rosana e Ricardo, Ricardo Jr. O garotinho de quatro anos era muito esperto e fofo.

Na fazenda, Carly também podia montar e ela amava isso. Tiago tinha dado uma égua a Lucy. Chamada de Brietta pela irmã de Carly, o animal era uma puro-sangue branca com uma mancha escura no dorso. Já vencera alguns prêmios, apesar de jovem. Brietta era dócil, mas Lucy não a montou mais que um par de vezes. Carly gostava muito de Brietta e vice-versa. O parceiro de Brietta era Trovão, um cavalo preto, que André ganhou do tio. Os dois foram os únicos que montaram o bicho sem serem lançados ao chão. Carly passava bem longe da baia de Trovão. Ela estava escovando Brietta, junto com Ricardo Jr., dois dias antes do Natal, quando o menino pulou do banquinho, gritando Andy!. Carly avistou o Mitsubishi Pajero de André vindo pela estrada de terra. Ele trouxe tia Salomé e tio Eli, que a convite de Lucy, tinham vindo para o Natal.

— Oi — disse André, ao aproximar-se de Carly, segurando o primo.

— Oi — disse ela, depois de ser abraçada pelos tios.

— Lucy e Tiago estão vindo.                      

— Ela me ligou de manhã — falou Carly, sem olhar para ele, que ficou incomodado com a frieza dela.

André foi falar com os tios, as primas e a avó. Dona Anita chegara naquela manhã, junto com Natália. Lucy e Tiago chegaram pouco depois, seguidos pelos Schutt. Clarice cumprimentou Carly, perguntando como ela estava e ela respondeu apenas “Bem”.

— Renata e Roberta não vêm? — perguntou Natália ao irmão.

— Não. Betinha foi visitar Rê em Nova York e as duas prometeram vim pro São João — disse Ricardo.

— E Betinha, vai mesmo noivar com o Paulo?

— É o que parece.

Carly olhou para André com Clarice, do outro lado da sala, e ele olhou para ela. A moça desviou os olhos e foi para a varanda. Sentou-se em uma das cadeiras de balanço e fechou os olhos, sentindo o vento no rosto; as conversas, na sala, tão longe quanto ela conseguia afastá-las. Começou a imaginar diálogos para seus personagens, da história que estava escrevendo agora.

— Cá — disse Tiago, no que pareceram minutos depois. Carly abriu os olhos e percebeu o cunhado e Lucy observando-a. — Tudo bem?

— Tudo — disse ela. Lucy disse que tia Rosana estava chamando para o almoço.

Carly percebeu, depois que Lucy e Tiago sentaram-se juntos, que o único lugar que sobrara era do lado direito de André; Clarice estava do esquerdo. Mas, pelo menos, dona Anita estava sentada à cabeceira da mesa e ficaria perto dela.

— Polenta? — perguntou André a Carly, depois de servir Clarice. Carly olhou para ele. André sorriu e ela teve vontade de pegar a colher que ele segurava e bater na cabeça do rapaz.

— Não, obrigada — falou ela, repreendendo-se pelo pensamento tolo.

Depois do almoço, André levou Clarice para passear. Carly ficou observando-os descer até o pomar, enquanto estava na varanda com seu notebook. Carly dizia a si mesma, há vários dias, que não se importava se André ia casar por dinheiro ou não. Mas quando entrou no Facebook, ela não pôde manter a mentira para si mesma. Quando a página carregou, a primeira coisa que apareceu em sua Timeline foi:

 

André Ferreira atualizou seu status de relacionamento

Em um relacionamento sério com Clarice Schutt

 

Carly ficou parada, enquanto a informação a atingia como uma flecha. Se ele mudou o status no Facebook era porque estava levando o relacionamento a sério. Mas claro que estava. Ele precisava casar, era óbvio. Carly odiou André por tratar o casamento como um negócio. Ele imaginava que seria feliz, casando daquele jeito? Por puro interesse?

Carly viu que o ícone dos amigos tinha um número 1. Ela clicou e Clarice tinha-lhe enviado uma solicitação de amizade — ela ignorou-o. Clicou no ícone das mensagens também com um número 1. Era Lorena.

Hi, Ca! Td bem? Estamos bm, eu e meu bb. Tem sido otimo trabalhar na WW! Obg mais uma vez. Lu me disse q Andy vai casar. Sinto mt L Pensei q ficariam juntos.

Carly balançou a cabeça para o pensamento ridículo de Lorena e respondeu à mensagem:

Oi, Lore! Não tem que me agradecer. Lu disse que você é uma ótima funcionária. Eu e André NUNCA ficaríamos juntos. Bjs pro ChristianJ

 

Carly decidiu entrar e ficar no seu quarto até todos irem embora. Mas tinha esquecido que Lucy e Tiago estavam lá. O casal estava deitado, Tiago com a cabeça na barriga de Lucy, e ela acariciava os cabelos dele. Quando Carly entrou, eles olharam para ela.

— Ah, gente, desculpa — falou ela, sem graça. — Esqueci que estavam aqui.

Carly ia sair, mas Lucy pediu que ela ficasse. A moça terminou de entrar. Lucy e Tiago sentaram-se na cama e ela estendeu a mão para irmã.

— O que foi, Cá? — perguntou Lucy, enquanto Carly sentava-se a seu lado. — Tu tão caidinha.

— Eu tô bem — disse Carly, sorrindo.

— Só pra ficar claro, preferia que você fosse minha cunhada — disse Tiago. Carly olhou para ele e não entendeu, a princípio.

— Não fala bobagem, Tiago. André está muito bem com a Cecília. E eu tô nem aí pra eles.

Clarice — corrigiu Tiago. Carly deu de ombros; pouco importava.

 

Laços Capítulo Quatorze

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Quinze dias depois do funeral, o testamento do sr. Ferreira foi lido. Pedro deixou seis por cento do Empório para Áurea, além da casa em que moravam. Liadan e Angélica, tinham quatro e cinco por cento, respectivamente. A metade da Fazenda Sementes Douradas, pertencente a Pedro, seria dividida igualmente entre os três filhos. Tiago teria vinte e cinco por cento do Empório e André, quarenta. Mas havia uma condição.

A parte que cabe ao meu primogênito, André Pedro Camargo Ferreira, não lhe será entregue antes do seu casamento, dentro das leis vigentes. Para ter direito a suas ações, sua mulher terá que declarar amor sincero a André, assinando um termo de compromisso, sob pena de perjúrio. A esposa de André também deverá assinar um termo, abrindo mão de todo e qualquer direito sobre as ações dele. Em caso de André não cumprir as exigências, no prazo de um ano, após a leitura deste testamento, sua parte será passada, então, a minha filha, Áurea Maria Alencar Ferreira, de forma definitiva.

 

Entre os destroços dos porta-retratos, da luminária, papéis, canetas, lápis, André ainda podia ouvir o advogado de seu pai lendo o testamento e das letras que podia ler, incrédulo, quando o dr. Sebastião Pereira lhe passou a folha. O rapaz pegou um porta-retrato e ia lançá-lo na parede, mas viu Carly parada na porta. André pediu para ela ir embora e sentou-se no pé da cama. Carly sentou-se ao lado dele e o abraçou. André devolveu o abraço.

André sabia que poderia chorar na frente de Carly; ela não veria isso como fraqueza. Mas não conseguiu. Pensando melhor, talvez seu pai tivesse lhe feito um favor. Não precisava mais voltar à empresa, nem ter qualquer responsabilidade... Porém, André não ia deixar Liadan ficar com o que era da sua família. Não mesmo. Se as ações passassem para a Áurea, a mãe tomaria conta para ela, até os dezoito anos. Aí ela controlaria cinquenta e um por cento das ações. Mas nem nos sonhos mais lindos de Liadan, ela veria isso acontecer.

— Andy — chamou Tiago, entrando no quarto. Ele avaliou a bagunça.

Carly afastou-se de André e levantou-se. Ela olhou para Lucy, parada na porta.

— Quero ficar sozinho, gente — disse André, sem olhar para o irmão.

— Não tem problema, Andy. Tu nunca gostou de trabalhar na empresa mesmo.

— Nunca vou deixar Liadan ter mais do que os quatro por cento que ela tem agora — falou André, com raiva, e olhou para o irmão.

— Então vai se casar? — perguntou Tiago.

— Parece que não tenho outra alternativa.

— Com quem vai casar, cara? Sabe, é preciso ter uma namorada pra começar — o mais novo meio que riu.

— Não sei — falou André. — Mas, pode acreditar que a mãe vai cuidar disso. Não vou precisar fazer esforço.

E André acabou descobrindo que era clarividente. Na semana seguinte, Angélica avisou a todos que os Schutt iriam jantar com eles. André pensou em como sua mãe era rápida.

Carly lembrava-se da família Schutt, no casamento de Lucy. Sílvia Schutt era uma das melhores amigas de Angélica. Eles eram donos da Imobiliária Schutt. A filha de Sílvia, Cecília — Carly não tinha certeza do nome — e André tinham sido colegas e muito amigos, desde crianças. Afastaram-se um pouco quando ela foi estudar em Belo Horizonte e, depois, nos Estados Unidos, mas ainda eram próximos. Carly vira os dois conversando, no casamento de Lucy, e André dançou com a moça, depois dela. Também se encontraram rapidamente com ela, no show de Paula Fernandes.

— Lembra da Carly, né, Clarice? — perguntou André, quando os Schutt chegaram, naquela noite.

Clarice. Então esse era o nome que Carly não conseguiu lembrar. Ela tinha a tez e os olhos claros e cabelos alourados, levemente ondulados. Carly sorriu ao cumprimentar a moça. Clarice foi mais gentil e tratou-a como se fossem amigas há muito tempo.

— Ah, a professorinha, irmã de Lucy — comentou Sílvia e Carly sentiu uma certa frieza na voz dela. — Não sabia que estava ainda aqui.

O sr. Schutt cochichou algo no ouvido da mulher e virou-se sorrindo para Carly.

— Prazer em revê-la, Carly. Pedro me falou muito de você, nas últimas semanas. Era um grande admirador seu.

Carly ruborizou, pois sabia que os olhos de todos estavam nela.

— O sr. Pedro sempre foi gentil — ela disse, para quebrar o silêncio.

Angélica convergiu o assunto para Clarice, perguntando a André se não achava que ela estava linda.

— Ela sempre foi linda — André sorriu para Clarice. Mas, depois, seus olhos encontraram os de Carly. Ela desviou o olhar e saiu da sala. Ele sentiu-se incomodado, sem saber o motivo.

***

André viu-se envolvido em uma série de jantares, almoços e encontros no clube, até o Natal. Ele deixou-se levar e logo estava, de novo, comprometido. Mas, dessa vez, não estava, nem de longe, apaixonado. Clarice tinha sido sua amiga, desde sempre, mas nada além disso.

— Eu nunca te disse isso, mas eu sinto muito pelo que aconteceu anos atrás — disse Clarice, ao aproximar-se de André, na varanda.

— O que aconteceu? — André franziu o cenho.

— Quando você namorava Brenda. Eu descobri que ela estava dando em cima do Mário e não te contei.

André meio que sorriu.

— Esquece.

— Fiquei com medo de que ficasse zangado comigo ao invés de com ela. Estava tão apaixonado; não queria que sofresse. Eu... — Clarice parou, olhando para o céu.

— O quê? — instigou André.

— Eu gostava de você — Clarice sorriu. — Totalmente apaixonada. Meu maior medo era que você descobrisse, porque ia ficar muito estranho... e eu pensei em contar, mas...

— Como eu nunca soube que era apaixonada por mim? — perguntou André, sorrindo.

— Porque eu era sua amiguinha nerd, quase sua irmã. E eu não era exatamente bonita.

— Era bonita, sim, só não se arrumava muito. E sabe que não me importaria com beleza se realmente gostasse de você.

— Eu era enorme e tinha espinhas — Clarice fez uma careta.

— Bobagem.

Os dois olharam para o céu escuro, por um tempo.

— Parece que vai chover — falou ela.

— É.

Clarice olhou para André.

— Somos amigos, Andy. Fale a verdade. Você precisa casar e nossos pais querem isso, né? — André confirmou, sem olhar para ela. — E você? Quer mesmo entrar em um casamento por conveniência?

André não respondeu, apoiando as mãos na proteção da varanda. Aquele seria o primeiro passo para o compromisso do resto da sua vida. Não haveria como voltar atrás. Não para ele.

André pegou a mão de Clarice e olhou-a nos olhos.

— Não importa o que eu quero. Eu preciso fazer isso, pela minha família. O que eu não quero é obrigar você a nada, nem que seja infeliz...

— Eu aceito — disse ela, sustentando o olhar dele.


 

Laços Capítulo Treze

 


Jornal Classe A

Empresário Pedro Ferreira morre em assalto

Morreu, na última sexta, o renomado empresário Pedro Ferreira. Filho de LEM, ele era dono da rede de Lojas Empório MimoSweet e tradicional produtor de soja. Ferreira morreu depois de ser baleado em um assalto, no qual tentaram roubar seu carro, próximo ao Condomínio Soya, onde morava.

Segundo relato da esposa do Sr. Pedro, ele não reagiu, mas os bandidos atiraram, antes de arrancar com o carro. A sra. Liadan Ferreira gritou por socorro e os vizinhos ligaram para polícia. O sr. Ferreira foi levado ao Hospital Salvatori, mas não resistiu.

A polícia está investigando. O carro foi abandonado na BR que leva a Barreiras, encontrado horas depois do latrocínio.

O enterro ocorreu hoje, às 14h, algumas horas após o corpo ter sido liberado do IML de Barreiras. O cortejo foi acompanhado por familiares e amigos, todos muito comovidos.

O empresário deixou a atual esposa, Liadan Ferreira e uma filha, Áurea Ferreira. E do primeiro casamento, com Angélica Camargo, o também empresário André Ferreira e o diretor de TV, Tiago Ferreira.

Prestamos condolências à família e afirmamos nosso pesar quanto à violência que assola nosso município.

 

André estava sentado no banco do jardim, desde que voltara do cemitério. Ele lembrava-se da última vez em que falara com o pai, na tarde de quinta. O filho foi contestar o pai sobre o resultado dos últimos relatórios.

— Tem retiradas muito grandes aqui, Pedro.

— Não são muito grandes, André — disse o sr. Ferreira, sem ao menos olhar os números. — Apenas um pouco de dinheiro para cobrir as extravagâncias da sua mãe e da Liadan com o cartão de crédito.

— Isso aqui é mais do que cartão de crédito. E mamãe paga as dívidas dela, separadas das contas da empresa. Você não paga nada dela — falou André, olhando para o pai. — Primeiro, foi a história dos fornecedores, agora as retiradas continuam...

— São retiradas normais...

— Não são, não...

— Desde quando se preocupa com a empresa, Andy? — Pedro sorriu, parecendo divertir-se.

Desde quando parece que você e sua... mulher... estão depredando meu patrimônio e do meu irmão — falou ele, aborrecido.

— Claro, mexeu no seu dinheiro, né? Você é igualzinho a mim — debochou Pedro, afastando os papéis.

— Eu não sou igual a você... — falou André, levantando-se.

— É mais parecido comigo do que gostaria, André Pedro...

— Sabe qual vai ser o dia mais feliz da minha vida? Quando não precisar mais olhar pra essa sua cara debochada — rebateu o filho. — Porque é isso que você faz. Sapateia em cima das pessoas e ri... Eu te odeio, pai...

Fechando os olhos, enquanto o pensamento girava, André viu de novo os olhos avelã do pai nos dele. Só não imaginara que seria a última vez...

***

Na cozinha, dona Anita, a avó de André, uma senhora de olhos bondosos, baixinha e gordinha, fez uma bandeja com sanduíche e suco.

— Se tu não conseguir fazer ele comer, ninguém vai conseguir — disse ela à Carly, depois de pedir que a moça levasse a bandeja até André, no jardim. Carly não achava que tinha tanta influência sobre André, mas desceu até o jardim e sentou-se ao lado do rapaz, à mesa, à beira da piscina.

— Dona Nita pediu pra trazer um lanche.

— Não tô com fome — disse André, sem olhar para ela.

— Não comeu nada o dia todo — Carly pegou o copo. — Sua vó disse que é seu preferido, maracujá com limão. Toma um pouquinho, Andy.

André olhou para ela e não conseguiu dizer não para aqueles olhos esverdeados e aquele pedido afável. Ele tomou um pouco do suco. Seu estômago roncou e ele percebeu que estava, de fato, com fome. O queijo quente com tomate de sua avó era o melhor de todos e ele comeu, agradecido.

— Como está minha mãe?                

— Tomou um remédio. Está dormindo.

— Tiago?

— Lucy está com ele, no quarto. Não quis comer também.

Eles ficaram em silêncio, por alguns minutos, enquanto André comia, e Carly sabia que deveria esperar André falar, quando quisesse.

— Eu o vi, na quinta. Nós discutimos de novo — falou André. Carly olhou para ele. — Meu pai morreu e eu não o perdoei.

— Nunca é tarde pra perdoar, Andy — disse ela. André fitou Carly por uns segundos. — Por que não sobe e deita um pouco? — sugeriu a moça e André recusou. — E Andy... — ela olhou-o nos olhos. — Você não chorou ainda.

André desviou o olhar, levantou-se e saiu, com as mãos nos bolsos.

***

 

Carly nunca estivera no quarto de André antes. Apenas vira uma parte, uma vez, ao passar pela porta entreaberta. A noite já havia descido, desde que se falaram, e Carly decidiu ver se ele estava dormindo. A porta estava entreaberta e ela bateu, mas não houve resposta. Ela resolveu entrar e viu que o aposento não era muito diferente do quarto de hóspedes, exceto pelas prateleiras, na parede, cheias de livros, miniaturas de carros e estantes com aparelhos eletrônicos obsoletos, como um Macintosh e um celular que Carly lembrava-se de ter visto no seriado Um maluco no pedaço. Havia ainda pôsteres de filmes, como Avatar, Matrix e X-men.

André saiu do banheiro, enxugando o cabelo, e surpreendeu-se ao ver Carly. A moça retrocedeu ao ver que ele estava só de toalha.

— Desculpa — disse ela, segurando a porta meio aberta. — Só vim ver se... deixa pra lá.

— Não, espera — falou André e Carly parou no corredor, de costas para porta. — Eu me visto... rápido — ele pegou a primeira calça e a primeira blusa que encontrou no closet e vestiu-se. — Pronto.

Carly entrou de novo e André percebeu que ela estava vermelha.

— Só vim ver se estava dormindo e... — ela olhou ao redor.

— Bem-vinda à minha base de operações — falou ele, sentando-se na cama. — Não sei se vou conseguir dormir, mas é normal...

— Deita aí — falou Carly e André olhou para ela. — Vai. Vou cantar pra tu dormir.

— Acho que já passei da fase de alguém cantar pra eu dormir — falou André.

Mas ele deitou-se. Carly puxou a cadeira da escrivaninha e sentou-se ao lado da cama e começou a cantar Espera em Deus, de Adriana. Ele ficou olhando para ela, até perceber que estava envergonhando-a, então fechou os olhos.

Não existe dor            

Não existe nada

Que Deus não possa resolver

Aquiete o seu coração

Espere um pouco mais

Não existe solidão

Não existe mágoa

Que Deus não possa curar...[i]

 

Carly, acanhada, tocou os cabelos de André, enquanto cantava. Ele não abriu os olhos; não sabia explicar se foi o efeito tranquilizador da canção ou da voz de Carly, mas sentiu tudo arrefecer, toda raiva, dor, arrependimento... Entrou lentamente em um torpor e o sono o abraçou.


[i] Trecho da música Espera em Deus, de Adriana Arydes. Composição: Ítalo Villar

Laços Capítulo Doze

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André estava sentado ao computador, assistindo, pela segunda vez, aos episódios da quarta temporada de Falling Skies. Sua amiga, Clarice, tinha ligado, convidando-o para sair com outros amigos, mas o rapaz recusou. Estava cansado e só queria ficar em casa. Talvez se fosse com Carly, ele quisesse sair. André riu, balançando a cabeça para o pensamento ridículo. Seu iPhone tocou e André pegou-o. Era o número do pai. Pensou em recusar a chamada, mas atendeu.

— Oi, Pedro.

Oi, Andy. Eu só queria dizer que eu sinto muito por ter sido tão rude com você, na história dos fornecedores.

André ficou em silêncio, sem conseguir acreditar que seu pai estivesse de fato pedindo desculpas. Ele olhou pela porta da varanda para se certificar de que o Armagedon não estava começando.

— Tá me zuando, pai? — perguntou ele.

Não, Andy — a voz de Pedro soou sincera. — Há muito tempo estava postergando o pagamento, mas tinha razão. É prioridade — André ouviu a voz de Áurea ao fundo e o pai disse que precisava desligar. — Conversamos melhor segunda. Bom fim de semana pra você, filho.

André ficou olhando para tela do seu celular, sem entender nem acreditar que aquela conversa aconteceu de verdade.

***

Para o Festival de Fim de Ano do Centro de Educação Vagalumes, cada professora ficava responsável por uma turma. Carly ficou com o quarto ano, junto com a professora de Português e Redação, Mônica. Ela fez uma adaptação do conto Presente de Reis Magos, de O. Henry. Carly selecionou Pedro Henrique para interpretar o filho e a professora de Português seria a mãe, protagonistas na nova versão. Ao final, as crianças cantaram uma canção natalina, em coro. Eles foram aplaudidos de pé.

Carly estava conversando com a mãe de Pedro, que estava muito orgulhosa das últimas notas do filho, depois das apresentações. O pai do garoto não viera, então eles pareciam tranquilos e felizes.

— Não sabia que era uma roteirista tão talentosa — Carly virou-se e André estava sorrindo para ela.

— André? O que está fazendo aqui?

— Tu disse que tinha escrito a peça, então vim assistir — ele sorriu.

Natália viu André, de longe, e aproximou-se, sorrindo.

— Olha, se não é meu sobrinho, que nunca pisou nessa escola antes.

— Estive aqui, há dois meses.

— Sabe o que acho interessante? Tu nunca gostou de Jequié, nem quando seu avô era vivo. Depois, quase não vinha ver sua avó e eu. Agora não sai daqui — a tia sorriu e piscou para Carly. André limitou-se a sorrir.

Ao final da festa, quando Carly ia ligar para tio Eli, André ofereceu-se para levá-la para casa. Ela recusou, mas ele insistiu:

— Liga pra ele e diz que vou te levar. Seu Eli está em casa, vai tirá-lo de lá...

Carly acabou aceitando. O BMW X3 de André estava parado na frente do CEV. Ele abriu a porta para ela.

— Nossa, mas tu gosta de ostentar, hein? — Carly comentou, depois que André entrou e deu a partida. — Sabia que pode ser morto por causa desse seu carro? Não sabe como Jequié tá violenta?

— Bom saber que se preocupa com minha segurança — ele sorriu, pulando as faixas, quando o som começou a tocar; If looks could kill, de Heart, encheu o carro. — Quer ir pra casa ou quer uma pizza? — perguntou André, ao parar na entrada para a Avenida César Borges. Carly olhou para ele e pensou em recusar a pizza. — Prometo que é só isso. Não é um encontro — continuou.

— Ok… mas quem morre de medo de relacionamentos é você — falou Carly, quando André pegou a direita.

— Não tenho medo de relacionamento… E olha quem fala de medo. Está solteira até hoje, com medo de ser trocada de novo.

— Para o carro — disse Carly e André olhou para ela. — AGORA! — ela gritou e André parou o carro. Carly desceu e começou a andar na direção contrária.

Ele saiu do carro.

— Carly Villaça, volta aqui — mas a moça continuou pela calçada deserta da Avenida. — Se eu te deixar aqui, vai ser assaltada ou algo pior.

Me deixa em paz! — disse ela, com os braços cruzados, na frente do peito.

André acompanhou-a e passou a frente de Carly, segurando-a. Ela tentou se desvencilhar, mas ele procurou os olhos dela.

Sorry[i]. Não deveria ter dito aquilo. Entra no carro, Lyly, por favor... Sabe que é perigoso — André olhou para os lados. A moça não olhou para ele, mas voltou para o carro ao perceber a preocupação na voz dele. André fechou a porta e entrou no carro. Ele sentiu raiva de si mesmo ao ver uma lágrima na bochecha de Carly.

— Vou te levar pra casa.

— Não. Agora que me deixou triste vai pagar quanta pizza eu puder comer…

Já sentados a uma mesa, na Pizzaria Khaza da Pizza, um garçom trouxe o cardápio. Enquanto escolhiam, Carly avisou aos tios onde estava e que logo estaria em casa. Ao desligar o celular, Carly viu um casal com um garoto no caixa.

— Ah, droga — falou ela. André olhou naquela direção.

— São eles? — perguntou ele, virando-se para ela. Carly confirmou, olhando para baixo. André passou o anel de formatura para a mão esquerda e passou o braço direito pelos ombros de Carly. — Olha pra mim — disse ele. Seus olhos encontraram-se e a moça sentiu o coração palpitar. André refreou o impulso de beijar os lábios vermelho-melancia de Carly.

— Oi, Carly — disse a moça de cabelos pretos, com franja, ao aproximar-se, sorrindo. — Nossa, há quanto tempo. Como tá?

— Ótima — Carly sorriu. — E vocês?

— Bem — Marcele olhou para André e baixou os olhos, rapidamente, para a mão esquerda dele que segurava o celular sobre a mesa.

— Esse é André Ferreira, meu... — Carly tentou fazer a palavra soar natural — marido. Andy, essa é Marcele. E aquele é o Douglas. E o filho deles, João Victor, né? Os dois foram meus colegas.

Douglas acenou, de longe. André achou-o estranhamente familiar. Ele apertou a mão de Marcele e disse que o filho dela era muito bonito. Marcele agradeceu, sorrindo; despediu-se e saiu. Carly abaixou a cabeça e encostou a testa no tampo da mesa. André segurou a mão dela, gentilmente, e depois de alguns segundos, a moça levantou a cabeça, respirando fundo.

— Obrigada — disse ela. Os dois ficaram em silêncio. — Mas Marcele sabe que é mentira. Douglas trabalha no Empório.

— É? Por isso o achei familiar — falou ele. — O que ele faz lá?

— Acho que assistente de RH.

— Quer que eu demita ele? — perguntou André.

Carly olhou para ele, incrédula.

— Não sou déspota — sorriu. — Faria isso se eu pedisse?

— Claro — André sorriu. — Qualquer coisa pra te ver feliz, afinal é minha amiga.

— Amiga? — Carly não tinha pensado em André como amigo. Mas, considerando como estavam próximos nos últimos meses, talvez fosse isso mesmo.

— Não me considera teu amigo? — questionou ele, ofendido. — Ah, ótimo. Depois de todo esse tempo, o que eu sou seu?

— Além de pseudo-esposo? — perguntou ela e eles riram. — Temos a relação mais estranha de que se teve notícia.

A pizza chegou e eles agradeceram ao garçom. André ergueu o copo.

— Aos sabores do relacionamento.

Carly ergueu o copo e eles começaram a comer; André implicando com Carly por ela comer tanta cebola, na pizza americana e ela, por ele gostar de queijo catupiry. André pegou um guardanapo e limpou o queixo de Carly.

— Tava sujo de ketchup — disse ele, quando ela olhou para ele. Carly baixou os olhos e André percebeu que constrangeu a moça. Ele pediu desculpas e mudou de assunto, dizendo que a peça dela ficou incrível...

André estacionou na frente da casa de Carly, uma hora e meia depois. Depois da pizza, eles passaram na Praça Rui Barbosa, para tomar sorvete. Ele pegou o livro Razão e Sensibilidade e um presente, no porta-luvas, e estendeu-os para ela.

— Obrigada por me emprestar. E espero que goste do presente.

— De nada. E obrigada. Não precisava. O show foi um dos melhores presentes que já recebi.

Carly sorriu, abrindo o embrulho. Dentro havia um DVD. Ela abriu a caixinha e a anotação, com a letra de André, na parte branca, dizia: O menino do dedo verde.

A moça olhou para André.

— É o filme?

— Legendado — ele sorriu.

— Fez a legenda? — perguntou, incrédula.

— Tiago me ajudou e mandei pra minha ex-professora corrigir.

Carly não soube o que dizer, apenas agradeceu. Mas o gesto de André a surpreendeu. Por que ele teria tanto trabalho por ela?

André desceu e abriu a porta para Carly. Ela desceu e eles olharam-se por uns segundos.

— Vai entrar? — perguntou Carly, abrindo o portão.

— Acho que seria falta de educação não entrar, né?

Enquanto tomavam um café, André conversava com os tios de Carly. Tia Salomé achou uma maneira de levar a conversa para relacionamentos e perguntou a André quando ele pretendia casar. André não chegou a responder porque seu celular tocou. Era o número de sua casa.

— Oi, mãe — mas não era Angélica, era Dora.

 

 


 



[i] Desculpa

Laços Capítulo Onze

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Capítulo Onze

André chegou do trabalho e passou direto para debaixo do chuveiro. Ainda podia ouvir as palavras ferinas do pai. Eles sempre brigavam quando se encontravam. André não ligava muito para empresa, mas agora, observando os números, soube que havia algo errado. Pedro estava usando o dinheiro da sua parte na Fazenda para cobrir as diferenças de caixa. E o gerente de Salvador tinha razão, alguns fornecedores não estavam sendo pagos. André colocou-os na planilha de pagamento e o pai disse que ele estava passando por cima de sua autoridade. André saiu do banheiro, vestiu-se e jogou-se na cama. Na mesa de cabeceira, perto do porta-retrato digital, estava o livro de Carly. Ela deixara com ele, em setembro. Já tinha lido, mas continuava no mesmo lugar. O rapaz pegou-o e abriu. Fitou a assinatura de Carly, na primeira página:

Carly Lopes Villaça

Winter 2014

 

A letra dela é linda — pensou André, sorrindo.

Carly havia enviado uma mensagem para o Whatsapp de André, perguntando se ele terminara de ler. O rapaz respondeu que sim e ela pediu para ele mandar pelo correio, se pudesse. Isso tinha sido em meados de outubro; mais ou menos quando André pensou em mandar o presente de aniversário dela. Mas, por algum motivo, ele estava guardando aquelas coisas para quando se encontrassem, pessoalmente.

André enviou uma mensagem para Carly: Hi. how r u?

Mas a moça apenas respondeu uma hora depois: I’m fine. And u?

André digitou: Fine. r u busy?

No. Pode falar.

 

Vi seu livro aqui e lembrei q tenho q devolvr. E seu presente d aniversário tbm

tá aq.

 

Não precisava comprar presente. O show já foi um grande presente.

Mas não era sobre isso que queria falar...

 

É, mas não quero te aborrecer com isso

 

Pode falar, se quiser. Não sei se posso ajudar, mas falar é sempre bom.

 

André explanou, superficialmente, sobre a briga com o pai e Carly tentou dizer para ele ser paciente e que lidar com as coisas, com raiva, não ia adiantar nada.

 

Tenta lidar com Pedro e vai vr q eh impossível

 

Eu não achei ele tão horrível. Talvez seja esse ódio q sente por ele

 

Entendo q veja sempre o lado bom das pessoas, Carly, mas não conhece meu pai, além d alguns jantares e da festa d casamento. Ele parece bm humorado e foi mt simpático com vc e Lucy, mas ainda é o cara q abandonou a gente, que está destruindo a nossa empresa.

 

Talvez tenha razão. Mas o fato é q “como” vc fala também influi na resposta.  Mas td bm...

André visualizou a mensagem, mas não respondeu. Carly deu a conversa por encerrada.

Lucy ligava sempre, quando não mandava mensagens. As irmãs também se falavam por vídeo-chat. Foi em uma dessas conversas que Carly contou a Lucy que pretendia ligar para o sr. Ferreira, para falar sobre André. A mais nova não achou uma boa ideia.

— Se o André souber que ligou pra ele, vai pirar.

Carly deu de ombros.

— Ah, quero te pedir uma coisa. Te falei da Lorena... então, tava pensando se não poderia ajudá-la.

— Quer ajudar a ex do André? — Lucy franziu o cenho. — Tá querendo mesmo arranjar uma briga.

Carly tinha procurado o perfil de Lorena, no Facebook, pouco depois que chegou do Rio, e a adicionou. Lorena aceitou e elas começaram a conversar. A loira falou do arrependimento de ter deixado André do jeito que fez, mas estava “completamente apaixonada e cega por Edgar”, como ela mesma escreveu. Carly contou que ela e André tinham fingido estar casados e que a ideia foi dela, para ajudá-lo a não se sentir mal. Lorena disse que já sabia que André não casara, mas que eles formavam um lindo casal. Carly ignorou o comentário. Resolveu, então, ajudar a moça já que ela não parecia o monstro que sempre imaginou.

— Vou ver o que posso fazer — Lucy sorriu.

Carly sorriu e agradeceu. Ela ouviu a voz de Tiago anunciando que chegara. Lucy virou-se para porta e o marido entrou. Quando se curvou para beijar a esposa, Tiago entrou no campo de visão da câmera. Cumprimentou Carly e perguntou se ela estava bem. Ela disse que sim.

— Tenho que desligar, sis — falou Lucy. — A gente se fala. Te amo!

— Te amo também, Lu — disse Carly.

A tela de vídeo ficou escura, indicando que Lucy interrompera a conexão. Carly fechou a tela e baixou os olhos para o celular. Levantou-se e foi até a sala pegar o telefone. Discou o número do Empório.

Empório MimoSweet, Dora, boa tarde — soou a voz agradável da secretária, do outro lado da linha.

— Boa tarde, Dora, é Carly, irmã da Lucy.

Oi, senhorita Carly. Em que posso ajudar?

— Eu gostaria de falar com o sr. Pedro, se possível.

Aguarde, por favor.

Carly esperou e a voz grave de Pedro Ferreira soou do outro lado da linha. Ele cumprimentou, entusiasticamente, a moça.

A que devo a honra, bela? — perguntou ele.

— Bom — Carly sentia-se nervosa —, sei que não deveria fazer isso, mas quero falar sobre André.

Ah, claro. Soube que estão de namorico.

Carly enrubesceu, agradecendo pelo sr. Ferreira não poder vê-la.

— Quem disse isso? Claro que não. — Ela ouviu o homem rir.

Não o culpo. Se fosse eu, também me candidataria a seu coração.

Carly tentou não se encabular frente ao galanteio ou não conseguiria falar. Pedro deve ter percebido que não estava deixando-a dizer para que ligou.

Sim, Carly, pode falar. Em que posso ajudar, bela? Aliás, desligue que eu ligo pra você.

Ao atender a ligação, Carly começou logo a falar, sem dar tempo ao sr. Ferreira para fazer piadinhas ou comentários sem sentido.

— Liguei pra falar sobre o André. Sei que vocês não têm uma boa relação, mas acho que se um dos dois desse um passo para a reconciliação, quem sabe... André é cabeça dura e não perdoa facilmente, mas... se o senhor tentasse ser mais paciente... ele só estava tentando ajudar... com os fornecedores. André, no fundo, se importa com a empresa, está tentando fazer o melhor que pode.

Carly parou e houve um silêncio. Ela achou que o sr. Ferreira poderia nem ter ouvido ou já desligara. Mas ele voltou a falar.

Olha, Andy encontrou uma advogada. Ótimo... e claro que sei que ele não pediu para fazer isso. Meu filho nunca agiria assim.

— Não, senhor.

Olha, Carly, sei o quanto é bondosa e crente no lado bom da humanidade, mas minha relação com André não tem mais conserto. Ele me odeia demais para acreditar em algo de bom que eu possa dizer. Mas obrigada pela tentativa. Meus filhos são muito sortudos de terem conhecido moças maravilhosas como você e Lucy.

— Sr. Ferreira, não desista. Vocês ainda têm tempo — pediu Carly. Houve mais um silêncio.

Fico feliz de saber que o André, apesar daquele jeito dele, ainda inspire sentimentos de amizade e preocupação em alguém tão especial como você.

— Sabe porquê Andy é daquele jeito — Carly arrependeu-se de ter soado julgadora.

Eu sei, bela... Mas, ok, eu vou tentar ser menos incisivo com André. Por você. E espero que ele perceba a mulher incrível que você é. Tive alguém igual a você, Carly, e não soube dar valor. Por sorte, meus filhos são mais inteligentes, eu acho.

Carly imaginou se Pedro estava referindo-se a Angélica.

— Obrigada, sr. Ferreira, por me ouvir.

Obrigado você, Cá. Se quiser ligar mais vezes. É sempre bom conversar com pessoas que não falam apenas de dinheiro e toda sorte de frivolidades.

Carly despediu-se e encerrou a ligação.