A saga das editoras brasileiras: A Contradição


Eu escrevi um livro, no fim do ano passado, e estava preocupada com os nomes das personagens principais, Carly e Lucy. Finalmente estava vencendo o bloqueio de escrever uma história na minha cidade, no interior da Bahia, mas os nomes das meninas tinham vindo esses e eu estava preocupada. Será que as editoras achariam muito “internacional”? Também assisti a um vídeo do Cabine Literária, com dicas para novos escritores. Uma delas dizia que como escritores brasileiros, escrevendo para um público brasileiro, deveríamos ambientar a história em uma cidade brasileira, com pessoas com nomes em português.
Ok. Eu provavelmente já naveguei em quase todos os sites de editoras brasileiras(#muitotrabalho #difícil #desespero). Algumas delas, que dizem dar espaço a novos autores, dão essa mesma dica. Porém,(e agora vou chegar à contradição), se observarmos bem, elas não publicam histórias assim.
Se observarmos os nomes que têm emergido no mercado editorial, como Carolina Munhoz, Lu Piras, Samanta Holtz, Carol Sabar... os romances delas não chegam perto da realidade brasileira que as editoras pedem(ou dizem pedir).
Bom, eu só li um livro da Carol Munhoz(que se firmou na fantasia pós-HP/Crepúsculo) e um da Samanta Holtz(recheado de referências a Sparks e Green); os outros folheei e li a sinopse(estão na lista de leituras futuras). Não estou aqui falando da qualidade do texto das autoras, mas sim da postura das editoras. Por favor.
O fato é que os nomes, as temáticas, os lugares giram em torno de best-sellers internacionais, no encalço de Harry Potter, Nicholas Sparks, John Green(e nem vou comentar a enxurrada de publicações eróticas depois do sucesso da sra. James).
O que eu quero dizer com isso tudo? Meu livro é totalmente brasileiro? Não tem influência da literatura inglesa? Não, definitivamente não. Sou Potterhead assumida e, sim, meus livros têm influência de J.K. Rowling, Stephenie Meyer e Nicholas Sparks. Mas eu não nego isso.
Quando eu publiquei meu primeiro livro, fui a uma escola da minha cidade, para apresentá-lo. Eu sou muito tímida, entrei quietinha e acho que não ouviram meu bom dia. Uma das alunas perguntou à professora se eu era brasileira. Ou seja, estamos tão acostumados com autores internacionais, que é meio surreal imaginar pessoas brasileiras publicando um livro. 
As editoras não são bobas. Elas sabem que para estar na vitrine ao lado de Emily Giffin, Nicholas Sparks e John Green(ao falar de romance), elas precisam de uma capa que pareça as edições americanas, os resumos devem trazer nomes que fiquem no meio-termo e têm que despertar o interesse de leitores/consumidores, que em sua grande maioria, preferem Literatura Estrangeira.
Para concluir, eu diria que isso é ruim? Não sei. O que eu sei que não devo ficar obcecada com construir uma história regionalista. Mas sabe o que seria bom? Uma postura unilateral das editoras. Ao invés de colocarem um texto bonitinho de apoio à Literatura Brasileira, deveriam assumir: “Escrevam uma história com vários elementos dos atuais best-sellers mascarados com algo brasileiro(ou nem se deem o trabalho; mande o personagem para o exterior) e, provavelmente, será escolhido para publicação.”
Um pouco de honestidade seria bom para variar.


Soraya Freire é gestora ambiental, estudante de Letras, escritora e não gosta de contradições.


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