(Resenha) Teia de Vidro, de Aurelio Nery



"Da mesma forma que a história de um livro não vive sem os seus leitores, 
uma lembrança também não vive sem aqueles que a guardam na memória."
Aurélio Nery

Quando eu comecei a ler “Teia de Vidro”, de Aurélio Nery, não me sentia à vontade. Sou cristã daquelas mente fechada, não vou mentir. Nunca li um “Romance gay”. Mas quando nós vamos além dos preconceitos podemos descobrir um mundo fantástico.
Teia de Vidro se passa em um mundo futurista, “pós-apocalíptico”, onde a Terra foi praticamente destruída. No Arranha-Céu, uma estrutura espacial, uma pseudo-Terra, moram os descendentes dos Terráqueos. Aos cinco anos, algumas crianças são escolhidas para morarem no Núcleo, estudarem e se profissionalizarem. Um desses estudantes é Hunter Lima. Ele é um cara curioso, que se vê tentado pelo novo professor e Destruidor(espécie de guarda do Núcleo), Ícaro Medrado. O sr. Medrado é misterioso e está ligado ao Projeto 69. Hunter decide, então, descobrir o que ele esconde. Enquanto isso se preocupa com seu amigo, Caio, que é viciado em Alucinógenos. Essas drogas podem tornar a pessoa um Infectado. Então ela será banida e terá que voltar à Terra, onde o Vírus domina tudo. Hunter também acredita ser um Infectado.  


Há muitos detalhes no intrincado enredo criado pelo autor, mas, claro, que não posso contar tudo. Durante a leitura, vemos os vislumbres das influências de Harry Potter e Jogos Vorazes. A escrita se mantém em um nível alto, com descrições concisas, bom uso de adjetivos e advérbios. Há um pequeno deslize no uso do “lhe”, porém nada que prejudique o enredo.
Os personagens são descritos em situações em que comem feijoada e cuscuz. E você pode pensar: “What the f...!?”, mas é daí que vem a genialidade de Nery. Vemos a influência norte-americana, mas ele mantém a conexão com a cultura brasileira e traz uma distopia para nosso continente, com o nosso jeito, nosso regionalismo.
Já ouvi comentários sobre Jogos Vorazes, que a história era ótima até que a autora colocou romance. Poderia dizer a mesma coisa sobre Teia de Vidro, porém não sejamos hipócritas. Tirando raras exceções, todos estão procurando romance. E a história de Aurélio Nery se desenvolve não por causa do romance, mas através dele. Enquanto eu me preocupava com o romance gay, isso é apenas um detalhe. Assim como na vida. Ninguém se define por sua homoafetividade, a cor da pele, a condição social, a religião. Não sou do tipo ativista pelo direito das minorias e não vou dizer que sim para ser politicamente correta. Mas sou ativista pelo direito de ser e deixar ser, pelo respeito e pelo amor nas nossas relações com o outro.
Enquanto leitora, deixo que a história fale por si, me alargue a visão e até me dê inspiração(estou pensando em me dedicar à minha distopia agora). E fico à espera do segundo volume da história de Hunter. Porque para nossa sorte, esse mundo fantástico ainda será muito explorado e mais surpresas virão.
Cochicho: Hunter não é o que você pensa. 

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Soraya Freire é escritora, gestora ambiental e estudante de Letras-Inglês. E anda aprendendo um bocado com a vida e, claro, com a literatura.

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