Laços Capítulo Onze

  Olá, pessoal! Mais um capítulo do meu livro Laços. Se puderem deixar um comentário para eu saber o que acharam, agradeço muito! Se quiserem adquirir um exemplar autografado, me contate em @sorayafreireoficial 


Capítulo Onze

André chegou do trabalho e passou direto para debaixo do chuveiro. Ainda podia ouvir as palavras ferinas do pai. Eles sempre brigavam quando se encontravam. André não ligava muito para empresa, mas agora, observando os números, soube que havia algo errado. Pedro estava usando o dinheiro da sua parte na Fazenda para cobrir as diferenças de caixa. E o gerente de Salvador tinha razão, alguns fornecedores não estavam sendo pagos. André colocou-os na planilha de pagamento e o pai disse que ele estava passando por cima de sua autoridade. André saiu do banheiro, vestiu-se e jogou-se na cama. Na mesa de cabeceira, perto do porta-retrato digital, estava o livro de Carly. Ela deixara com ele, em setembro. Já tinha lido, mas continuava no mesmo lugar. O rapaz pegou-o e abriu. Fitou a assinatura de Carly, na primeira página:

Carly Lopes Villaça

Winter 2014

 

A letra dela é linda — pensou André, sorrindo.

Carly havia enviado uma mensagem para o Whatsapp de André, perguntando se ele terminara de ler. O rapaz respondeu que sim e ela pediu para ele mandar pelo correio, se pudesse. Isso tinha sido em meados de outubro; mais ou menos quando André pensou em mandar o presente de aniversário dela. Mas, por algum motivo, ele estava guardando aquelas coisas para quando se encontrassem, pessoalmente.

André enviou uma mensagem para Carly: Hi. how r u?

Mas a moça apenas respondeu uma hora depois: I’m fine. And u?

André digitou: Fine. r u busy?

No. Pode falar.

 

Vi seu livro aqui e lembrei q tenho q devolvr. E seu presente d aniversário tbm

tá aq.

 

Não precisava comprar presente. O show já foi um grande presente.

Mas não era sobre isso que queria falar...

 

É, mas não quero te aborrecer com isso

 

Pode falar, se quiser. Não sei se posso ajudar, mas falar é sempre bom.

 

André explanou, superficialmente, sobre a briga com o pai e Carly tentou dizer para ele ser paciente e que lidar com as coisas, com raiva, não ia adiantar nada.

 

Tenta lidar com Pedro e vai vr q eh impossível

 

Eu não achei ele tão horrível. Talvez seja esse ódio q sente por ele

 

Entendo q veja sempre o lado bom das pessoas, Carly, mas não conhece meu pai, além d alguns jantares e da festa d casamento. Ele parece bm humorado e foi mt simpático com vc e Lucy, mas ainda é o cara q abandonou a gente, que está destruindo a nossa empresa.

 

Talvez tenha razão. Mas o fato é q “como” vc fala também influi na resposta.  Mas td bm...

André visualizou a mensagem, mas não respondeu. Carly deu a conversa por encerrada.

Lucy ligava sempre, quando não mandava mensagens. As irmãs também se falavam por vídeo-chat. Foi em uma dessas conversas que Carly contou a Lucy que pretendia ligar para o sr. Ferreira, para falar sobre André. A mais nova não achou uma boa ideia.

— Se o André souber que ligou pra ele, vai pirar.

Carly deu de ombros.

— Ah, quero te pedir uma coisa. Te falei da Lorena... então, tava pensando se não poderia ajudá-la.

— Quer ajudar a ex do André? — Lucy franziu o cenho. — Tá querendo mesmo arranjar uma briga.

Carly tinha procurado o perfil de Lorena, no Facebook, pouco depois que chegou do Rio, e a adicionou. Lorena aceitou e elas começaram a conversar. A loira falou do arrependimento de ter deixado André do jeito que fez, mas estava “completamente apaixonada e cega por Edgar”, como ela mesma escreveu. Carly contou que ela e André tinham fingido estar casados e que a ideia foi dela, para ajudá-lo a não se sentir mal. Lorena disse que já sabia que André não casara, mas que eles formavam um lindo casal. Carly ignorou o comentário. Resolveu, então, ajudar a moça já que ela não parecia o monstro que sempre imaginou.

— Vou ver o que posso fazer — Lucy sorriu.

Carly sorriu e agradeceu. Ela ouviu a voz de Tiago anunciando que chegara. Lucy virou-se para porta e o marido entrou. Quando se curvou para beijar a esposa, Tiago entrou no campo de visão da câmera. Cumprimentou Carly e perguntou se ela estava bem. Ela disse que sim.

— Tenho que desligar, sis — falou Lucy. — A gente se fala. Te amo!

— Te amo também, Lu — disse Carly.

A tela de vídeo ficou escura, indicando que Lucy interrompera a conexão. Carly fechou a tela e baixou os olhos para o celular. Levantou-se e foi até a sala pegar o telefone. Discou o número do Empório.

Empório MimoSweet, Dora, boa tarde — soou a voz agradável da secretária, do outro lado da linha.

— Boa tarde, Dora, é Carly, irmã da Lucy.

Oi, senhorita Carly. Em que posso ajudar?

— Eu gostaria de falar com o sr. Pedro, se possível.

Aguarde, por favor.

Carly esperou e a voz grave de Pedro Ferreira soou do outro lado da linha. Ele cumprimentou, entusiasticamente, a moça.

A que devo a honra, bela? — perguntou ele.

— Bom — Carly sentia-se nervosa —, sei que não deveria fazer isso, mas quero falar sobre André.

Ah, claro. Soube que estão de namorico.

Carly enrubesceu, agradecendo pelo sr. Ferreira não poder vê-la.

— Quem disse isso? Claro que não. — Ela ouviu o homem rir.

Não o culpo. Se fosse eu, também me candidataria a seu coração.

Carly tentou não se encabular frente ao galanteio ou não conseguiria falar. Pedro deve ter percebido que não estava deixando-a dizer para que ligou.

Sim, Carly, pode falar. Em que posso ajudar, bela? Aliás, desligue que eu ligo pra você.

Ao atender a ligação, Carly começou logo a falar, sem dar tempo ao sr. Ferreira para fazer piadinhas ou comentários sem sentido.

— Liguei pra falar sobre o André. Sei que vocês não têm uma boa relação, mas acho que se um dos dois desse um passo para a reconciliação, quem sabe... André é cabeça dura e não perdoa facilmente, mas... se o senhor tentasse ser mais paciente... ele só estava tentando ajudar... com os fornecedores. André, no fundo, se importa com a empresa, está tentando fazer o melhor que pode.

Carly parou e houve um silêncio. Ela achou que o sr. Ferreira poderia nem ter ouvido ou já desligara. Mas ele voltou a falar.

Olha, Andy encontrou uma advogada. Ótimo... e claro que sei que ele não pediu para fazer isso. Meu filho nunca agiria assim.

— Não, senhor.

Olha, Carly, sei o quanto é bondosa e crente no lado bom da humanidade, mas minha relação com André não tem mais conserto. Ele me odeia demais para acreditar em algo de bom que eu possa dizer. Mas obrigada pela tentativa. Meus filhos são muito sortudos de terem conhecido moças maravilhosas como você e Lucy.

— Sr. Ferreira, não desista. Vocês ainda têm tempo — pediu Carly. Houve mais um silêncio.

Fico feliz de saber que o André, apesar daquele jeito dele, ainda inspire sentimentos de amizade e preocupação em alguém tão especial como você.

— Sabe porquê Andy é daquele jeito — Carly arrependeu-se de ter soado julgadora.

Eu sei, bela... Mas, ok, eu vou tentar ser menos incisivo com André. Por você. E espero que ele perceba a mulher incrível que você é. Tive alguém igual a você, Carly, e não soube dar valor. Por sorte, meus filhos são mais inteligentes, eu acho.

Carly imaginou se Pedro estava referindo-se a Angélica.

— Obrigada, sr. Ferreira, por me ouvir.

Obrigado você, Cá. Se quiser ligar mais vezes. É sempre bom conversar com pessoas que não falam apenas de dinheiro e toda sorte de frivolidades.

Carly despediu-se e encerrou a ligação.


 

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