Laços Capítulo Onze

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Capítulo Onze

André chegou do trabalho e passou direto para debaixo do chuveiro. Ainda podia ouvir as palavras ferinas do pai. Eles sempre brigavam quando se encontravam. André não ligava muito para empresa, mas agora, observando os números, soube que havia algo errado. Pedro estava usando o dinheiro da sua parte na Fazenda para cobrir as diferenças de caixa. E o gerente de Salvador tinha razão, alguns fornecedores não estavam sendo pagos. André colocou-os na planilha de pagamento e o pai disse que ele estava passando por cima de sua autoridade. André saiu do banheiro, vestiu-se e jogou-se na cama. Na mesa de cabeceira, perto do porta-retrato digital, estava o livro de Carly. Ela deixara com ele, em setembro. Já tinha lido, mas continuava no mesmo lugar. O rapaz pegou-o e abriu. Fitou a assinatura de Carly, na primeira página:

Carly Lopes Villaça

Winter 2014

 

A letra dela é linda — pensou André, sorrindo.

Carly havia enviado uma mensagem para o Whatsapp de André, perguntando se ele terminara de ler. O rapaz respondeu que sim e ela pediu para ele mandar pelo correio, se pudesse. Isso tinha sido em meados de outubro; mais ou menos quando André pensou em mandar o presente de aniversário dela. Mas, por algum motivo, ele estava guardando aquelas coisas para quando se encontrassem, pessoalmente.

André enviou uma mensagem para Carly: Hi. how r u?

Mas a moça apenas respondeu uma hora depois: I’m fine. And u?

André digitou: Fine. r u busy?

No. Pode falar.

 

Vi seu livro aqui e lembrei q tenho q devolvr. E seu presente d aniversário tbm

tá aq.

 

Não precisava comprar presente. O show já foi um grande presente.

Mas não era sobre isso que queria falar...

 

É, mas não quero te aborrecer com isso

 

Pode falar, se quiser. Não sei se posso ajudar, mas falar é sempre bom.

 

André explanou, superficialmente, sobre a briga com o pai e Carly tentou dizer para ele ser paciente e que lidar com as coisas, com raiva, não ia adiantar nada.

 

Tenta lidar com Pedro e vai vr q eh impossível

 

Eu não achei ele tão horrível. Talvez seja esse ódio q sente por ele

 

Entendo q veja sempre o lado bom das pessoas, Carly, mas não conhece meu pai, além d alguns jantares e da festa d casamento. Ele parece bm humorado e foi mt simpático com vc e Lucy, mas ainda é o cara q abandonou a gente, que está destruindo a nossa empresa.

 

Talvez tenha razão. Mas o fato é q “como” vc fala também influi na resposta.  Mas td bm...

André visualizou a mensagem, mas não respondeu. Carly deu a conversa por encerrada.

Lucy ligava sempre, quando não mandava mensagens. As irmãs também se falavam por vídeo-chat. Foi em uma dessas conversas que Carly contou a Lucy que pretendia ligar para o sr. Ferreira, para falar sobre André. A mais nova não achou uma boa ideia.

— Se o André souber que ligou pra ele, vai pirar.

Carly deu de ombros.

— Ah, quero te pedir uma coisa. Te falei da Lorena... então, tava pensando se não poderia ajudá-la.

— Quer ajudar a ex do André? — Lucy franziu o cenho. — Tá querendo mesmo arranjar uma briga.

Carly tinha procurado o perfil de Lorena, no Facebook, pouco depois que chegou do Rio, e a adicionou. Lorena aceitou e elas começaram a conversar. A loira falou do arrependimento de ter deixado André do jeito que fez, mas estava “completamente apaixonada e cega por Edgar”, como ela mesma escreveu. Carly contou que ela e André tinham fingido estar casados e que a ideia foi dela, para ajudá-lo a não se sentir mal. Lorena disse que já sabia que André não casara, mas que eles formavam um lindo casal. Carly ignorou o comentário. Resolveu, então, ajudar a moça já que ela não parecia o monstro que sempre imaginou.

— Vou ver o que posso fazer — Lucy sorriu.

Carly sorriu e agradeceu. Ela ouviu a voz de Tiago anunciando que chegara. Lucy virou-se para porta e o marido entrou. Quando se curvou para beijar a esposa, Tiago entrou no campo de visão da câmera. Cumprimentou Carly e perguntou se ela estava bem. Ela disse que sim.

— Tenho que desligar, sis — falou Lucy. — A gente se fala. Te amo!

— Te amo também, Lu — disse Carly.

A tela de vídeo ficou escura, indicando que Lucy interrompera a conexão. Carly fechou a tela e baixou os olhos para o celular. Levantou-se e foi até a sala pegar o telefone. Discou o número do Empório.

Empório MimoSweet, Dora, boa tarde — soou a voz agradável da secretária, do outro lado da linha.

— Boa tarde, Dora, é Carly, irmã da Lucy.

Oi, senhorita Carly. Em que posso ajudar?

— Eu gostaria de falar com o sr. Pedro, se possível.

Aguarde, por favor.

Carly esperou e a voz grave de Pedro Ferreira soou do outro lado da linha. Ele cumprimentou, entusiasticamente, a moça.

A que devo a honra, bela? — perguntou ele.

— Bom — Carly sentia-se nervosa —, sei que não deveria fazer isso, mas quero falar sobre André.

Ah, claro. Soube que estão de namorico.

Carly enrubesceu, agradecendo pelo sr. Ferreira não poder vê-la.

— Quem disse isso? Claro que não. — Ela ouviu o homem rir.

Não o culpo. Se fosse eu, também me candidataria a seu coração.

Carly tentou não se encabular frente ao galanteio ou não conseguiria falar. Pedro deve ter percebido que não estava deixando-a dizer para que ligou.

Sim, Carly, pode falar. Em que posso ajudar, bela? Aliás, desligue que eu ligo pra você.

Ao atender a ligação, Carly começou logo a falar, sem dar tempo ao sr. Ferreira para fazer piadinhas ou comentários sem sentido.

— Liguei pra falar sobre o André. Sei que vocês não têm uma boa relação, mas acho que se um dos dois desse um passo para a reconciliação, quem sabe... André é cabeça dura e não perdoa facilmente, mas... se o senhor tentasse ser mais paciente... ele só estava tentando ajudar... com os fornecedores. André, no fundo, se importa com a empresa, está tentando fazer o melhor que pode.

Carly parou e houve um silêncio. Ela achou que o sr. Ferreira poderia nem ter ouvido ou já desligara. Mas ele voltou a falar.

Olha, Andy encontrou uma advogada. Ótimo... e claro que sei que ele não pediu para fazer isso. Meu filho nunca agiria assim.

— Não, senhor.

Olha, Carly, sei o quanto é bondosa e crente no lado bom da humanidade, mas minha relação com André não tem mais conserto. Ele me odeia demais para acreditar em algo de bom que eu possa dizer. Mas obrigada pela tentativa. Meus filhos são muito sortudos de terem conhecido moças maravilhosas como você e Lucy.

— Sr. Ferreira, não desista. Vocês ainda têm tempo — pediu Carly. Houve mais um silêncio.

Fico feliz de saber que o André, apesar daquele jeito dele, ainda inspire sentimentos de amizade e preocupação em alguém tão especial como você.

— Sabe porquê Andy é daquele jeito — Carly arrependeu-se de ter soado julgadora.

Eu sei, bela... Mas, ok, eu vou tentar ser menos incisivo com André. Por você. E espero que ele perceba a mulher incrível que você é. Tive alguém igual a você, Carly, e não soube dar valor. Por sorte, meus filhos são mais inteligentes, eu acho.

Carly imaginou se Pedro estava referindo-se a Angélica.

— Obrigada, sr. Ferreira, por me ouvir.

Obrigado você, Cá. Se quiser ligar mais vezes. É sempre bom conversar com pessoas que não falam apenas de dinheiro e toda sorte de frivolidades.

Carly despediu-se e encerrou a ligação.


 

Laços Capítulo Dez

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Capítulo Dez

Carly saiu do banho, depois de chegar da aula de reforço, à tarde, quando seu celular soou, avisando que ela recebera uma mensagem no Whatsapp. Era de André:

Hi. How r u[AB1] ?

Por algum motivo, ela sorriu e digitou:

I’m fine, thank you. And you?[i]

 

Eu consegui um par de ingressos para o show da Paula Fernandes, dia 3.

Um amigo tinha comprado, mas vai viajar e me ofereceu. Seu aniversário é dia 6, então pensei q seria um bom presente.

Qr ir?

 

Carly sorriu, sentada na cama. Nunca tinha ido a um show antes. E da Paula Fernandes, era um sonho! Mas pensou em como iria, se precisaria faltar à escola; e ficar na casa de André, sem Lucy estar lá, não parecia uma boa ideia.

Ñão sei.

O q sua mãe acha disso?

 

Sabe tenho 23 anos, já posso pensar por mim mesmo. E vamos a um show, Villaça. Para d ser medrosa. Sabe q eu cuido d vc

 

A palavra medrosa fez Carly lembrar-se do sonho com sua mãe. Seja corajosa, querida. Ela digitou: Vou conversar com meus tios — e enviou.

Ok, então. Espero resposta –– André respondeu.

 

— Um amigo tinha comprado, mas vai viajar? — perguntou Mário, que estava lendo a conversa por cima do ombro de André, no escritório do Empório MimoSweet, — Que história é essa? Eu tive o maior trabalho pra conseguir os ingressos e nem citou meu nome — Mário jogou-se no sofá.

— Carly não gosta de você. Não depois de ter convidado ela pra sua casa de praia e ter dito que ficariam sozinhos.

— Ah, como eu ia saber que ela é toda recatada. gata, solteira, tive que jogar meu charme, né?

— É um idiota, Mário. Não sei por quê ainda sou seu amigo.

— Porque eu sou ligado com todos os promotores dessa cidade e consigo ingressos, na última hora, pra você levar sua princesinha ao show da Paula Fernandes. De nada, cara. Disponha — falou Mário, em tom debochado. Levantou-se e sentou à mesa. Pegou o peso de papel — um bonequinho, feito de biscuit, sentado a uma mesa de escritório, com uma lixeirinha ao lado, que servia como porta-canetas.

— Você está em débito comigo… deixa isso aí — falou André, tomando o artesanato da mão dele. — Foi a Lyly que me deu.

— Ah, foi a Lyly — Mário riu. — Sabe que eu acho que é você quem gostaria de estar numa casa de praia com a Carly?

— Olha como fala dela, hein — André olhou, sério, para o amigo.

— Ah, Andy, você é tão... — o rapaz procurou as palavras — bobo e quadrado. Depois de ser chifrado duas vezes, ainda se apaixona...

— E uma das vezes, quem foi o culpado? — Mário ficou sem graça. — Vai cuidar da tua vida, vai — falou André. — Valeu pelos ingressos.

— Quero um favor.

André franziu o cenho.

— O quê?

— Tô querendo trabalhar.

— Sério? — perguntou André, incrédulo. — Por que não trabalha na empresa do seu pai?

— Sabe que eu não me dou com o velho.

André pensou um pouco. Ele sabia da relação complicada de Mário com os pais.

— Isso tem a ver com o fato da minha prima estar prestes a ficar noiva?

Mário não respondeu. André sabia o quanto o amigo ficou mal ao saber que Roberta estava prestes a ficar noiva do namorado. Ele ligou, bêbado e chorando, para André, dizendo que recebera a notícia da própria. Mário e Roberta eram amigos, há muito tempo, e ele nutria uma paixão não declarada por ela, que André sabia.

— O fato é que eu cansei de não fazer nada da minha vida — disse Mário, ficando de pé. — Me ajuda, vai.

— Vou ver o que posso fazer.

***

— O que achou? — perguntou André, sorrindo, quando ele e Carly entraram no carro, depois de sair do Quatro Estações Hall, na madrugada do primeiro sábado de outubro.

— Eu amei! — disse Carly, sorrindo.

Carly não podia acreditar. Ainda ficou olhando para casa de shows, quando André deu a partida. Tia Salomé incentivou-a a ir, com algumas recomendações. Tio Eli resmungou alguma coisa, mas ao final, desejou “boa viagem” à sobrinha, abençoou-a e disse para ter cuidado. André tinha avisado a Carly que iria buscá-la, na sexta à tarde. Tio Eli levou-a até o sítio de dona Anita e André e tio Fernando vieram com o Esquilo, para buscá-la.

André conseguiu que Carly tirasse uma foto com Paula Fernandes e tivesse seu CD autografado, por ter enviado à cantora uma cesta com os doces do Empório. Carly estava tão feliz que até esqueceu que estava com fome. Mas depois que a adrenalina baixou, ela sentiu seu estômago roncar. Perguntou a André se tinha algo para comer ali.

— Vê no porta-luvas — disse ele. Carly procurou no meio da confusão de papéis, canetas, CDs e lixo e encontrou uma barrinha de cereais. À luz de leitura, viu que estava vencida.

— Nossa, de repente, eu posso encontrar um basilisco aqui, não? — ela sorriu, tentando colocar ordem na bagunça.

— Sempre deixo pra limpar depois e o depois nunca chega — comentou André.

Carly tirou tudo que poderia ser lixo e arrumou os papéis, canetas — as que ainda escreviam — e os CDs. Achou, então, um pedaço de papel com um número de telefone e um nome.

Andrea? — perguntou ela, olhando para André. Ele olhou para o papel, enquanto entrava no Condomínio.

— Sei lá, deve ser de alguma festa. Aliás, a última faz tanto tempo; nem lembro — André estacionou na frente de casa; saiu do carro e abriu a porta para Carly.

— André e Andrea seria muito clichê, não acha? — ela sorriu.

Ao chegarem à porta, Carly tirou os sapatos para não fazer barulho. Sem os saltos de dez, ela voltou a ser bem mais baixa do que André. Ele fechou a porta e os dois atravessaram a sala, no escuro, e foram para cozinha. Famintos, eles fizeram sanduíches e comeram com leite gelado.

— À aniversariante do mês — disse André, erguendo o copo. Carly apenas sorriu, erguendo o copo. Eles ficaram em silêncio, mastigando.

— Obrigada — disse Carly, olhando para André. — Thank you so much for make my dream come true.[ii]

You’re welcome[iii] — ele falou, sorrindo. — You richly deserve it[iv] — e passou o dedo sujo de ketchup no nariz dela.

Carly fez uma cara de surpresa e depois passou mostarda no nariz de André. Eles estavam rindo, quando Angélica entrou na cozinha, com um robe de seda preta e os cabelos soltos sobre os ombros. Os dois pararam e olharam para ela.

— Podem continuar — disse a mulher, indo até o armário. Pegou uma xícara. — Como foi o show?

— Ótimo — respondeu André, enquanto a mãe colocava a xícara com água no micro-ondas.

— Espero que enquanto planeja festinhas, André, seu pai não esteja nos levando pro buraco.

— Obrigado, mãe, por nos brindar com seu bom humor logo de madrugada — falou o rapaz, sarcástico.

Angélica nada disse. Olhou para Carly, que sustentou seu olhar. Depois saiu da cozinha com sua xícara de chá. Pouco importava os olhares repreensivos de Angélica. Depois de tirar a maquiagem e tomar banho, Carly arrastou-se, cansada, mas feliz, para cama. Adormeceu, imediatamente. André, também, para sua surpresa, no dia seguinte, descobriu que pegou no sono, assim que sua cabeça tocou o travesseiro. Há muito tempo não dormia tão bem.




[i] Oi. Como você está?

Tô bem, obrigado. E você?

[ii] Obrigada por transformar meu sonho em realidade

[iii] De nada

[iv] Você merece muito isso.


 [AB1]É assim mesmo?

Sim. É um internetês do inglês. Uma abreviação de “are you”, igual “vc tá”


Laços Capítulo nove

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Capítulo Nove

O desfile foi no Espaço Wonderful Woman, em Copacabana. Dos vinte e três modelos, seis eram de Lucy, seis de outra estilista estreante e o restante da própria Miranda Roy. Carly aplaudiu muito quando os modelos de Lucy foram apresentados. Tiago também não cabia em si de tanto orgulho. Antes do fim do desfile, uma moça da produção veio chamá-lo, para entregar um buquê de rosas à Lucy, quando Miranda chamasse as outras estilistas ao palco.

Carly ficou impressionada com a quantidade de celebridades. Até que ela divisou Anamary, com o esposo, Daniel. Ela foi, toda feliz, cumprimentar a prima.

A Revista Quem Quer Saber pediu fotos da família de Lucy, junta. Carly sempre ficava incomodada com fotos, mas posou mesmo assim. A jornalista pediu os nomes de Carly e André e perguntou se eram um casal.

— Ainda não — disse Anamary, sorrindo.

— Por que disse aquilo? — perguntou Carly, baixinho, enquanto iam para o salão do coquetel.

— Vocês formam um casal tão fofo — continuou a prima e a outra balançou a cabeça.

Carly e André ficaram sentados a uma mesa, à margem da festa, observando as pessoas desfilarem pelo salão e dançar, na pista. Um garçom passou várias vezes, com champagne, mas Carly recusou. André perguntou ao garçom se ele poderia trazer dois coquetéis sem álcool. O garçom disse que sim.

— Quer dançar? — perguntou ele e Carly recusou. — Vai ficar a noite toda sentada aqui?

— Tem um monte de modelos ali, doidas pra falar com você — Carly olhou para as moças, que não tiravam os olhos de André.

— Pena que não fico com modelos — disse André, olhando para elas. — Vem — ele pegou a mão de Carly.

— Não, eu odeio dançar — falou ela, retesando-se na cadeira.

— Levanta — falou André, tirando o blazer, e amarrou-o na cintura de Carly. — Se o problema era o comprimento do vestido — ele sorriu, levantando os olhos, e encontrou os de Carly.

— Ai, Lucy vai me matar — falou ela.

— Ela tá muito feliz com o Tiago pra perceber.

Carly viu a irmã e o cunhado dançando, na pista de dança, e sorriu por eles parecerem bem. O garçom apareceu; eles pegaram as taças, agradecendo, e saíram para a varanda. Havia uma brisa agradável ali fora. Lá embaixo, estendia-se a praia e o mar com suas ondas intermitentes. Na calçada preto e branca, pessoas iam e vinham. Alguns quiosques abertos reuniam várias pessoas.

André tirou seu iPhone do bolso.

— Que música quer ouvir?

— Você não gosta das mesmas músicas que eu — disse ela, olhando para ele.

André selecionou Lens, de Alanis Morissette, na sua playlist.

— Ouve o retrato real do casamento.

Carly sabia que a canção falava sobre um casal sob o mesmo teto, que se amavam, mas viviam uma batalha de egos e as diferenças estavam afastando-os.

— É vem tu com isso de novo — falou ela, entediada. — Mas é o que ela diz. Ver as diferenças através das lentes do amor.

— O amor não existe. É só uma coisa que Hollywood inventou. Repara. As pessoas estão sempre frustradas ou decepcionadas. Elas querem uma paixão ardente ou um romance “água com açúcar”. Então, o que Hollywood faz? Dá o que elas querem: filmes com uma coisa ou outra, ou as duas. As pessoas vão ao cinema, alimentam a bilheteria e a loja de pipoca e doces. Isso mantém a indústria cinematográfica funcionando. Além da alimentícia, de remédios para emagrecer, de antidepressivos… — Carly olhou para ele, incrédula, depois riu. — O quê? Acha que sou louco?

— Acho — falou ela, convicta. — Só me diz uma coisa: quando ia se casar, não era porque amava Lorena?

André ficou quieto, olhando para frente. Carly percebeu que pisara em campo minado. Mas talvez o encontro daquela tarde tivesse mudado alguma coisa.

— Ainda gosta dela? — perguntou ela e André olhou para moça. Ela susteve seu olhar. — Como foi reencontrar ela?

— Divertido — André riu e Carly achou estranho. — É. Sempre imaginei como seria reencontrar Lorena, mas nunca pensei que seria fingindo estar casado. E contigo, ainda por cima.

— Isso quer dizer que é bom ou ruim? — perguntou ela.

André aproximou-se de Carly e cochichou no ouvido dela:

— Ótimo, é claro — seus olhos encontraram-se, por alguns segundos. André sorriu e Carly devolveu o sorriso, ruborizando. Outra música começou:‘Til you, também de Alanis. André estendeu a mão para Carly e com o outro braço dobrado para trás das costas, fez uma breve reverência.

— É uma das suas favoritas, né? — perguntou André, sorrindo. Ela sorriu, fazendo uma mesura, e colocou a mão sobre a dele.

André colocou o braço direito em torno de Carly e ela colocou a mão esquerda no ombro dele. Carly lembrou-se dos ensaios para festa de Lucy e Tiago. Ela era péssima; parecia ter dois pés esquerdos, como dizem. A professora de dança tentou fazer Carly sentir-se mais confiante e leve. André foi totalmente paciente, apesar de poder usar os jogos da Copa do Mundo para interromper os ensaios e descansar seus dedos doloridos. Angélica sempre tinha um comentário sarcástico, sugerindo, inclusive, que Lucy substituísse a madrinha. André ofereceu ajuda a Carly e eles passaram algumas horas, à noite, na sala de piano, ensaiando. Carly nunca agradeceu, então fez isso agora. André sorriu e disse que ela não tinha nada a agradecer.

— Só precisava de confiança e não tinha isso com os outros, que foram treinados na Brasilartes; nem com minha mãe falando. Estamos quites — falou André, olhando nos olhos de Carly. — Ah, obrigado pelo que fez no supermercado.

— De nada — ela sorriu.

André inclinou-se, encostando sua bochecha na de Carly. Ele podia sentir o perfume dela e ela, o dele. Eles dançaram, assim, até o fim da música.

***

Carly não conseguiu dormir. Levantou-se, pegou um comprimido de Valeriana e foi à cozinha, pegar água. André estava sentado no sofá, com a TV ligada, lendo. Carly decidiu devolver o susto que ele lhe dera, um mês atrás, na varanda. Aproximou-se e disse:

— Está gastando energia à toa por quê? — André olhou para ela e Carly sorriu. — Sabe quantos litros de água são gastos pra gerar um quilowatt de energia?

— Estou assistindo.

— E lendo — duvidou Carly. — Acho que é a primeira pessoa que conheço cujo cérebro consegue se concentrar em duas coisas ao mesmo tempo.

— Para de ser chata — falou André, aborrecido.

Carly foi à cozinha e pegou um copo d’água. Ela sentou-se no sofá; ia tomar um comprimido, mas André pegou-o.

— Devolve isso, Ferreira.

André foi para cozinha e jogou o comprimido na lixeira. Carly olhou para ele, aborrecida.

— Não deveria tomar essas porcarias.

— É natural — rebateu ela.

— Natural, só água.

— Nem é. Isso aqui ‘tá cheio de cloro, flúor e outras bagaça — falou Carly, levantando o copo. Eles tentaram, mas não conseguiram segurar o riso.

Os dois voltaram para o sofá. Carly percebeu que André estava lendo Razão e Sensibilidade.

— Pegou meu livro sem pedir...

— Tava aqui no sofá, nem vem — André pegou o controle e começou a mudar de canal. — E você já terminou, não?

— Para, para — disse Carly. — Volta...

André apertou o botão para retroceder até Carly dizer “Aí”. Estava passando Harry Potter e o Enigma do Príncipe.

— Fala sério. Não abusa disso, não?

— Shiii. Fica quieto.

André recostou-se no sofá, com cara de tédio. Ele mudava o canal, às vezes, só para Carly olhar para ele, com raiva. André ria e voltava. Carly aborreceu-se e tomou o controle dele. Então André começou a dizer as falas.

— Pra quem odeia Harry Potter, você sabe todas as falas.

— Eu era Potterhead — disse ele, displicente.

Carly ficou quieta, mas depois perguntou:

— Quem era sua namorada, que te fez queimar o livro?

— Tu parece do CSI — brincou André, com a cabeça apoiada na mão, com o cotovelo no encosto do sofá. — Eu não fico perguntando sobre seus ex-namorados, fico?

— Pois parecia bem interessado, ontem — rebateu ela.

— Brenda — falou André. — Minha mãe pirou comigo — fez voz de falsete: Você é louco? Nem se fosse o pior livro do mundo! Não se queima livro. — E me colocou pra limpar todas as janelas, os banheiros e cuidar do jardim. Deu um bônus, com minha mesada, pra faxineira e o jardineiro.

— No fim, dona Angélica não é tão ruim quanto pensei — comentou Carly, sorrindo.

— Ah, valeu pela consideração — disse André, sarcástico. — Fiquei com raiva dela, porque foi pouco depois do Pedro ter ido embora… achei que ela estava descontando em mim — eles ficaram em silêncio, uns segundos. — Mas foi bom... pela jardinagem. Descobri que tenho dedo verde.

— Já leu O menino do dedo verde? — perguntou Carly, lembrando do velho livro remendado, de Maurice Druon, que tia Salomé tinha e era um de seus preferidos.

— Li. Era do meu vô Ben. Ele lia pra mim quando eu era pequeno. Fiquei com alguns livros dele, inclusive esse. Assistiu ao filme?

— Assisti, mas é em francês, então entendi lhufas... e você?

— No curso de Francês — ele confirmou.

— É fluente?

— Um pouco. Não terminei o curso, por isso Tiago fala melhor que eu. Espanhol e Inglês já me enchiam o bastante.

— Me parece muito interessante.

— Por que a Jo estudou francês? — André sorriu.

— Também.

Os dois voltaram ao filme. André olhou para Carly. Ela tinha a tendência de irritá-lo e ao mesmo tempo eles tinham muito em comum. Ele tinha que reconhecer que gostava de conversar com ela. Carly percebeu que André estava olhando para ela.

— O que foi?

— Nada — respondeu André, desviando o olhar para TV.

Carly ainda olhou, de soslaio, para ele, e se perguntou no que ele estaria pensando.


 


Laços Capítulo oito

 

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Capítulo Oito

Carly e André estavam na seção de pães integrais. Ela observou os preços e achou um absurdo. Estava quase desistindo de escolher alguma coisa. André disse que era “o custo de vida na Cidade Maravilhosa” e colocou os pães no carrinho.

— É, só pra quem tem cartão platina — falou Carly. — Mas, pensando bem, não tá menor que o custo de vida em Jequié. Você não consegue alimentar uma família de cinco pessoas com um real de pães. Como diz Lucy, isso aqui é o Jogos Vorazes sem arco e flecha[i] — André riu, enquanto iam para seção de congelados.

Quando iam para o caixa, André viu a moça de cabelos com mechas loiras, que era a atendente. Ele parou e Carly percebeu. Seguiu o olhar dele e, mesmo sem nunca ter visto Lorena, sabia que era ela. A mulher da frente já estava terminando enquanto na outra fila, havia duas pessoas ainda. Carly pegou o anel de formatura de André e colocou no dedo anelar da mão esquerda dele, com a pedra azul para baixo.

— O que...?

— Aja normalmente — Carly empurrou o carrinho, quando a mulher da frente saiu.

A loira viu André e sorriu. Carly achou um absurdo ela sorrir assim, depois de tudo.

— Oi, Andy.

Carly bateu o copo de requeijão cremoso na esteira. Lorena olhou para ela. Carly percebeu que a moça viu a aliança na mão dela. Lorena começou a passar as compras.

— Quem é sua amiga, Andy? — perguntou Carly, simpática.

André entendeu o que Carly estava tentando fazer e entrou no jogo dela.

— Lorena Veiga, dear — falou ele, sorrindo para ela. — Ou melhor, Lorena Martins, não é? E não é minha amiga, já falei sobre ela. Lorena, essa é Carly Ferreira, minha esposa.

— Ah — a outra estendeu a mão. — Prazer em conhecê-la.

— Lorena Veiga? — Carly sorriu, apertando brevemente a mão da moça. — Sua ex-noiva? — André confirmou. — Que casou com Edgar?

— É. Aliás, como está Edgar? — perguntou André, terminando de passar as compras para a esteira. Lorena parou um pouco com o código de barra do peito de frango pronto para passar no infravermelho.

— Ele me trocou por uma texana, herdeira do petróleo — Lorena colocou o frango de lado. — Então voltei pro Brasil com meu filho — ela terminou de passar os iogurtes e deu o total da compra.

Carly observou a mulher, enquanto André entregava-lhe o cartão e ela entregava-lhe o recibo, depois de efetivado o pagamento.

— Obrigada. Voltem sempre — Lorena sorriu, mas Carly podia ver toda tristeza nos olhos dela. Ela não merecia raiva ou ódio, somente pena.

Ao chegarem ao apartamento, André e Carly guardaram as compras com a ajuda de Lucy e Tiago. Depois, eles fizeram um lanche e Tiago foi levar a esposa ao local do desfile, em Copacabana. André pegou a barra de Diamante Negro que comprara e estendeu para Carly, quando ela terminou de lavar a louça. Ela olhou para ele.

— Pra tu não dizer que nunca te dei nada — André sorriu.

— Oxe, mas tu me deu presentes d’O Mundo Mágico de Harry Potter, no último Natal — disse Carly, aceitando o chocolate. — Obrigada

— Não poderia ir lá e não trazer nada pra tu, né? — André continuou enxugando a louça.

Carly sentou-se à mesa, com uma folha de papel e uma caneta. Ficou olhando para André, mas ele olhou para ela e Carly olhou para baixo. Escreveu:

Lista de compras

Tiago chegou um pouco antes de Carly terminar. André aproveitou para perguntar ao irmão, de novo, sobre ele e Lucy.

— Para de mentir, Tiago. Sei que brigaram — André insistiu e Tiago acabou confirmando. — Por quê?

— Porque eu saí com uns amigos — falou ele.

— Pra onde?

— Uma festa.

— E essa foi a primeira vez?

— É da polícia, Andy? — perguntou Tiago, incomodado.

— Essa foi a primeira vez? — repetiu André, incisivo, com os olhos em Tiago, que olhava para o chão. Carly observava os dois.

— Não. A terceira — Tiago olhou para o irmão. — Mas não bebi nem conversei com nenhuma mulher...

— Não fez mais que a obrigação — cortou André. — Me diz uma coisa. Se Lucy tivesse saído com as amigas e te deixado, ia gostar? — Tiago ficou quieto, apoiado no balcão. — Não importa o que não fez. Sabe que está errado ou não tinha começado logo a se justificar. Se você vai a um lugar que não gostaria que Lucy fosse é porque sabe que pode prejudicar o casamento de vocês. Se não serve pro seu casamento, não serve pra você.

— Lucy fica reclamando que está com saudades de casa, que eu quero que ela faça tudo.

— E você quer?

— Ela é um pouco bagunceira — falou Tiago, tentando não olhar para Carly, que o observava. — Eu que tive que arrumar a casa pra quando chegassem.

— Mas Lu estava trabalhando muito essa semana, não?

— É, mas...

— Para de inventar desculpas, Tiago — falou André, com veemência. — Se você quer manter esse casamento não vai adiantar nada ficar justificando teus erros com os erros da tua esposa. Você tem que entender que Lucy está longe da irmã e dos tios. Claro que ela vai falar, principalmente se a pessoa que deveria fazer companhia a ela, some. Vai demorar até ela se acostumar. Tu sabia que seria mais difícil pra ela que pra tu, ficar longe de casa. Eu te falei. Mas isso não é desculpa pra tornar tudo pior. Ninguém colocou uma 32 na tua cabeça e te obrigou a casar. Tu disse que estava certo disso.

— Não me arrependi de casar, Andy. Lucy é a mulher da minha vida…

— Então demonstre isso — finalizou André.

Ele saiu da cozinha. Carly virou-se para Tiago e seus olhos encontraram-se. Ela estava surpresa com o comportamento de André; não imaginava que ele fosse tão sensato.

***

Mais tarde, Carly saiu do quarto, já pronta para ir ao desfile. Ela estava um pouco desconfortável com o comprimento do vestido; odiava roupa curta. Lucy sabia disso, mas insistia que a irmã deveria mostrar mais as pernas, que eram muito bonitas. Carly as achava muito finas e tentava ao máximo escondê-las. A moça não ficou melhor, com o comentário de André, quando ela entrou na sala.

— Nossa, casamento de celebridade é curto, mas esse teu vestido.

Shut up[ii] — falou Carly, ruborizando.

Tiago apareceu e eles desceram para garagem.

You’re beautiful[iii] — disse André, ao abrir a porta da Mercedes para Carly. Ela olhou para ele e entrou, rapidamente, antes que André a visse ficar vermelha novamente.


 



[i] Frase creditada a Mariana Freire.

[ii] Cala boca.

[iii] Você está linda.