Laços Capítulo Quatorze

  Olá, pessoal! Mais um capítulo do meu livro Laços. Se puderem deixar um comentário para eu saber o que acharam, agradeço muito! Se quiserem adquirir um exemplar autografado, me contate em @sorayafreireoficial 


Quinze dias depois do funeral, o testamento do sr. Ferreira foi lido. Pedro deixou seis por cento do Empório para Áurea, além da casa em que moravam. Liadan e Angélica, tinham quatro e cinco por cento, respectivamente. A metade da Fazenda Sementes Douradas, pertencente a Pedro, seria dividida igualmente entre os três filhos. Tiago teria vinte e cinco por cento do Empório e André, quarenta. Mas havia uma condição.

A parte que cabe ao meu primogênito, André Pedro Camargo Ferreira, não lhe será entregue antes do seu casamento, dentro das leis vigentes. Para ter direito a suas ações, sua mulher terá que declarar amor sincero a André, assinando um termo de compromisso, sob pena de perjúrio. A esposa de André também deverá assinar um termo, abrindo mão de todo e qualquer direito sobre as ações dele. Em caso de André não cumprir as exigências, no prazo de um ano, após a leitura deste testamento, sua parte será passada, então, a minha filha, Áurea Maria Alencar Ferreira, de forma definitiva.

 

Entre os destroços dos porta-retratos, da luminária, papéis, canetas, lápis, André ainda podia ouvir o advogado de seu pai lendo o testamento e das letras que podia ler, incrédulo, quando o dr. Sebastião Pereira lhe passou a folha. O rapaz pegou um porta-retrato e ia lançá-lo na parede, mas viu Carly parada na porta. André pediu para ela ir embora e sentou-se no pé da cama. Carly sentou-se ao lado dele e o abraçou. André devolveu o abraço.

André sabia que poderia chorar na frente de Carly; ela não veria isso como fraqueza. Mas não conseguiu. Pensando melhor, talvez seu pai tivesse lhe feito um favor. Não precisava mais voltar à empresa, nem ter qualquer responsabilidade... Porém, André não ia deixar Liadan ficar com o que era da sua família. Não mesmo. Se as ações passassem para a Áurea, a mãe tomaria conta para ela, até os dezoito anos. Aí ela controlaria cinquenta e um por cento das ações. Mas nem nos sonhos mais lindos de Liadan, ela veria isso acontecer.

— Andy — chamou Tiago, entrando no quarto. Ele avaliou a bagunça.

Carly afastou-se de André e levantou-se. Ela olhou para Lucy, parada na porta.

— Quero ficar sozinho, gente — disse André, sem olhar para o irmão.

— Não tem problema, Andy. Tu nunca gostou de trabalhar na empresa mesmo.

— Nunca vou deixar Liadan ter mais do que os quatro por cento que ela tem agora — falou André, com raiva, e olhou para o irmão.

— Então vai se casar? — perguntou Tiago.

— Parece que não tenho outra alternativa.

— Com quem vai casar, cara? Sabe, é preciso ter uma namorada pra começar — o mais novo meio que riu.

— Não sei — falou André. — Mas, pode acreditar que a mãe vai cuidar disso. Não vou precisar fazer esforço.

E André acabou descobrindo que era clarividente. Na semana seguinte, Angélica avisou a todos que os Schutt iriam jantar com eles. André pensou em como sua mãe era rápida.

Carly lembrava-se da família Schutt, no casamento de Lucy. Sílvia Schutt era uma das melhores amigas de Angélica. Eles eram donos da Imobiliária Schutt. A filha de Sílvia, Cecília — Carly não tinha certeza do nome — e André tinham sido colegas e muito amigos, desde crianças. Afastaram-se um pouco quando ela foi estudar em Belo Horizonte e, depois, nos Estados Unidos, mas ainda eram próximos. Carly vira os dois conversando, no casamento de Lucy, e André dançou com a moça, depois dela. Também se encontraram rapidamente com ela, no show de Paula Fernandes.

— Lembra da Carly, né, Clarice? — perguntou André, quando os Schutt chegaram, naquela noite.

Clarice. Então esse era o nome que Carly não conseguiu lembrar. Ela tinha a tez e os olhos claros e cabelos alourados, levemente ondulados. Carly sorriu ao cumprimentar a moça. Clarice foi mais gentil e tratou-a como se fossem amigas há muito tempo.

— Ah, a professorinha, irmã de Lucy — comentou Sílvia e Carly sentiu uma certa frieza na voz dela. — Não sabia que estava ainda aqui.

O sr. Schutt cochichou algo no ouvido da mulher e virou-se sorrindo para Carly.

— Prazer em revê-la, Carly. Pedro me falou muito de você, nas últimas semanas. Era um grande admirador seu.

Carly ruborizou, pois sabia que os olhos de todos estavam nela.

— O sr. Pedro sempre foi gentil — ela disse, para quebrar o silêncio.

Angélica convergiu o assunto para Clarice, perguntando a André se não achava que ela estava linda.

— Ela sempre foi linda — André sorriu para Clarice. Mas, depois, seus olhos encontraram os de Carly. Ela desviou o olhar e saiu da sala. Ele sentiu-se incomodado, sem saber o motivo.

***

André viu-se envolvido em uma série de jantares, almoços e encontros no clube, até o Natal. Ele deixou-se levar e logo estava, de novo, comprometido. Mas, dessa vez, não estava, nem de longe, apaixonado. Clarice tinha sido sua amiga, desde sempre, mas nada além disso.

— Eu nunca te disse isso, mas eu sinto muito pelo que aconteceu anos atrás — disse Clarice, ao aproximar-se de André, na varanda.

— O que aconteceu? — André franziu o cenho.

— Quando você namorava Brenda. Eu descobri que ela estava dando em cima do Mário e não te contei.

André meio que sorriu.

— Esquece.

— Fiquei com medo de que ficasse zangado comigo ao invés de com ela. Estava tão apaixonado; não queria que sofresse. Eu... — Clarice parou, olhando para o céu.

— O quê? — instigou André.

— Eu gostava de você — Clarice sorriu. — Totalmente apaixonada. Meu maior medo era que você descobrisse, porque ia ficar muito estranho... e eu pensei em contar, mas...

— Como eu nunca soube que era apaixonada por mim? — perguntou André, sorrindo.

— Porque eu era sua amiguinha nerd, quase sua irmã. E eu não era exatamente bonita.

— Era bonita, sim, só não se arrumava muito. E sabe que não me importaria com beleza se realmente gostasse de você.

— Eu era enorme e tinha espinhas — Clarice fez uma careta.

— Bobagem.

Os dois olharam para o céu escuro, por um tempo.

— Parece que vai chover — falou ela.

— É.

Clarice olhou para André.

— Somos amigos, Andy. Fale a verdade. Você precisa casar e nossos pais querem isso, né? — André confirmou, sem olhar para ela. — E você? Quer mesmo entrar em um casamento por conveniência?

André não respondeu, apoiando as mãos na proteção da varanda. Aquele seria o primeiro passo para o compromisso do resto da sua vida. Não haveria como voltar atrás. Não para ele.

André pegou a mão de Clarice e olhou-a nos olhos.

— Não importa o que eu quero. Eu preciso fazer isso, pela minha família. O que eu não quero é obrigar você a nada, nem que seja infeliz...

— Eu aceito — disse ela, sustentando o olhar dele.


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário