Olá, pessoal! Mais um capítulo do meu livro Laços. Se puderem deixar um comentário para eu saber o que acharam, agradeço muito! Se quiserem adquirir um exemplar autografado, me contate em @sorayafreireoficial
Quinze dias depois do funeral, o testamento do sr. Ferreira foi lido.
Pedro deixou seis por cento do Empório
para Áurea, além da casa em que moravam. Liadan e Angélica, tinham quatro e
cinco por cento, respectivamente. A metade da Fazenda Sementes Douradas, pertencente a Pedro, seria dividida
igualmente entre os três filhos. Tiago teria vinte e cinco por cento do Empório e André, quarenta. Mas havia uma
condição.
A parte que cabe ao meu primogênito, André Pedro Camargo Ferreira, não
lhe será entregue antes do seu casamento, dentro das leis vigentes. Para ter
direito a suas ações, sua mulher terá que declarar amor sincero a André,
assinando um termo de compromisso, sob pena de perjúrio. A esposa de André
também deverá assinar um termo, abrindo mão de todo e qualquer direito sobre as
ações dele. Em caso de André não cumprir as exigências, no prazo de um ano,
após a leitura deste testamento, sua parte será passada, então, a minha filha,
Áurea Maria Alencar Ferreira, de forma definitiva.
Entre os destroços dos porta-retratos, da luminária, papéis, canetas,
lápis, André ainda podia ouvir o advogado de seu pai lendo o testamento e das
letras que podia ler, incrédulo, quando o dr. Sebastião Pereira lhe passou a
folha. O rapaz pegou um porta-retrato e ia lançá-lo na parede, mas viu Carly
parada na porta. André pediu para ela ir embora e sentou-se no pé da cama.
Carly sentou-se ao lado dele e o abraçou. André devolveu o abraço.
André sabia que poderia chorar na frente de Carly; ela não veria isso
como fraqueza. Mas não conseguiu. Pensando melhor, talvez seu pai tivesse lhe
feito um favor. Não precisava mais voltar à empresa, nem ter qualquer
responsabilidade... Porém, André não ia deixar Liadan ficar com o que era da
sua família. Não mesmo. Se as ações passassem para a Áurea, a mãe tomaria conta
para ela, até os dezoito anos. Aí ela controlaria cinquenta e um por cento das
ações. Mas nem nos sonhos mais lindos de Liadan, ela veria isso acontecer.
— Andy — chamou Tiago, entrando no quarto. Ele avaliou a bagunça.
Carly afastou-se de André e levantou-se. Ela olhou para Lucy, parada na
porta.
— Quero ficar sozinho, gente — disse André, sem olhar para o irmão.
— Não tem problema, Andy. Tu nunca gostou
de trabalhar na empresa mesmo.
— Nunca vou deixar Liadan ter mais do que os quatro por cento que ela
tem agora — falou André, com raiva, e olhou para o irmão.
— Então vai se casar? — perguntou Tiago.
— Parece que não tenho outra alternativa.
— Com quem vai casar, cara? Sabe, é preciso ter uma namorada pra começar
— o mais novo meio que riu.
— Não sei — falou André. — Mas, pode acreditar que a mãe vai cuidar
disso. Não vou precisar fazer esforço.
E André acabou descobrindo que era clarividente.
Na semana seguinte, Angélica avisou a todos que os Schutt iriam jantar com
eles. André pensou em como sua mãe era rápida.
Carly lembrava-se da família Schutt, no casamento de Lucy. Sílvia Schutt
era uma das melhores amigas de Angélica. Eles eram donos da Imobiliária Schutt. A filha de Sílvia,
Cecília — Carly não tinha certeza do nome — e André tinham sido colegas e muito
amigos, desde crianças. Afastaram-se um pouco quando ela foi estudar em Belo
Horizonte e, depois, nos Estados Unidos, mas ainda eram próximos. Carly vira os
dois conversando, no casamento de Lucy, e André dançou com a moça, depois dela.
Também se encontraram rapidamente com ela, no show de Paula Fernandes.
— Lembra da Carly, né,
Clarice? — perguntou André, quando os Schutt chegaram, naquela noite.
Clarice. Então esse era o
nome que Carly não conseguiu lembrar. Ela tinha a tez e os olhos claros e
cabelos alourados, levemente ondulados. Carly sorriu ao cumprimentar a moça.
Clarice foi mais gentil e tratou-a como se fossem amigas há muito tempo.
— Ah, a professorinha, irmã de Lucy — comentou Sílvia e Carly sentiu uma
certa frieza na voz dela. — Não sabia que estava ainda aqui.
O sr. Schutt cochichou algo no
ouvido da mulher e virou-se sorrindo para Carly.
— Prazer em revê-la, Carly.
Pedro me falou muito de você, nas últimas semanas. Era um grande admirador seu.
Carly ruborizou, pois sabia
que os olhos de todos estavam nela.
— O sr. Pedro sempre foi
gentil — ela disse, para quebrar o silêncio.
Angélica convergiu o assunto
para Clarice, perguntando a André se não achava que ela estava linda.
— Ela sempre foi linda — André
sorriu para Clarice. Mas, depois, seus olhos encontraram os de Carly. Ela
desviou o olhar e saiu da sala. Ele sentiu-se incomodado, sem saber o motivo.
***
André viu-se envolvido em uma série de jantares, almoços e encontros no
clube, até o Natal. Ele deixou-se levar e logo estava, de novo, comprometido.
Mas, dessa vez, não estava, nem de longe, apaixonado. Clarice tinha sido sua
amiga, desde sempre, mas nada além disso.
— Eu nunca te disse isso, mas eu sinto muito pelo que aconteceu anos
atrás — disse Clarice, ao aproximar-se de André, na varanda.
— O que aconteceu? — André franziu o cenho.
— Quando você namorava Brenda. Eu descobri que ela estava dando em cima
do Mário e não te contei.
André meio que sorriu.
— Esquece.
— Fiquei com medo de que ficasse zangado comigo ao invés de com ela.
Estava tão apaixonado; não queria que sofresse. Eu... — Clarice parou, olhando
para o céu.
— O quê? — instigou André.
— Eu gostava de você — Clarice sorriu. — Totalmente apaixonada. Meu
maior medo era que você descobrisse, porque ia ficar muito estranho... e eu
pensei em contar, mas...
— Como eu nunca soube que era apaixonada por mim? — perguntou André,
sorrindo.
— Porque eu era sua amiguinha nerd, quase sua irmã. E eu não era
exatamente bonita.
— Era bonita, sim, só não se arrumava muito. E sabe que não me
importaria com beleza se realmente gostasse de você.
— Eu era enorme e tinha espinhas — Clarice fez uma careta.
— Bobagem.
Os dois olharam para o céu escuro, por um tempo.
— Parece que vai chover — falou ela.
— É.
Clarice olhou para André.
— Somos amigos, Andy. Fale a verdade. Você precisa casar e nossos pais
querem isso, né? — André confirmou, sem olhar para ela. — E você? Quer mesmo
entrar em um casamento por conveniência?
André não respondeu, apoiando as mãos na proteção da varanda. Aquele
seria o primeiro passo para o compromisso do resto da sua vida. Não haveria
como voltar atrás. Não para ele.
André pegou a mão de Clarice e olhou-a nos olhos.
— Não importa o que eu quero. Eu preciso fazer isso, pela minha família.
O que eu não quero é obrigar você a nada, nem que seja infeliz...
— Eu aceito — disse ela, sustentando o olhar dele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário