Olá, pessoal! Mais um capítulo do meu livro Laços. Se puderem deixar um comentário para eu saber o que acharam, agradeço muito! Se quiserem adquirir um exemplar autografado, me contate em @sorayafreireoficial
André estava sentado ao computador, assistindo, pela segunda vez, aos
episódios da quarta temporada de Falling
Skies. Sua amiga, Clarice, tinha ligado, convidando-o para sair com outros
amigos, mas o rapaz recusou. Estava cansado e só queria ficar em casa. Talvez
se fosse com Carly, ele quisesse sair. André riu, balançando a cabeça para o
pensamento ridículo. Seu iPhone tocou e André pegou-o. Era o número do pai.
Pensou em recusar a chamada, mas atendeu.
— Oi, Pedro.
— Oi, Andy. Eu só queria dizer que
eu sinto muito por ter sido tão rude com você, na história dos fornecedores.
André ficou em silêncio, sem conseguir acreditar que seu pai estivesse
de fato pedindo desculpas. Ele olhou pela porta da varanda para se certificar
de que o Armagedon não estava começando.
— Tá me zuando, pai? — perguntou ele.
— Não, Andy — a voz de Pedro
soou sincera. — Há muito tempo estava
postergando o pagamento, mas tinha razão. É prioridade — André ouviu a voz
de Áurea ao fundo e o pai disse que precisava desligar. — Conversamos melhor segunda. Bom
fim de semana pra você, filho.
André ficou olhando para tela do seu celular, sem entender nem acreditar
que aquela conversa aconteceu de verdade.
***
Para o Festival de Fim de Ano do Centro de Educação Vagalumes, cada
professora ficava responsável por uma turma. Carly ficou com o quarto ano,
junto com a professora de Português e Redação, Mônica. Ela fez uma adaptação do
conto Presente de Reis Magos, de O.
Henry. Carly selecionou Pedro Henrique para interpretar o filho e a professora
de Português seria a mãe, protagonistas na nova versão. Ao final, as crianças
cantaram uma canção natalina, em coro. Eles foram aplaudidos de pé.
Carly estava conversando com a mãe de Pedro, que estava muito orgulhosa
das últimas notas do filho, depois das apresentações. O pai do garoto não
viera, então eles pareciam tranquilos e felizes.
— Não sabia que era uma roteirista tão talentosa — Carly virou-se e André
estava sorrindo para ela.
— André? O que está fazendo aqui?
— Tu disse que tinha escrito a
peça, então vim assistir — ele sorriu.
Natália viu André, de longe, e aproximou-se, sorrindo.
— Olha, se não é meu sobrinho, que nunca pisou nessa escola antes.
— Estive aqui, há dois meses.
— Sabe o que acho interessante? Tu nunca gostou de Jequié, nem quando seu avô era vivo. Depois, quase não
vinha ver sua avó e eu. Agora não sai daqui — a tia sorriu e piscou para Carly.
André limitou-se a sorrir.
Ao final da festa, quando Carly ia ligar para tio Eli, André ofereceu-se
para levá-la para casa. Ela recusou, mas ele insistiu:
— Liga pra ele e diz que vou te levar. Seu Eli está em casa, vai tirá-lo
de lá...
Carly acabou aceitando. O BMW X3 de André estava parado na frente do
CEV. Ele abriu a porta para ela.
— Nossa, mas tu gosta de
ostentar, hein? — Carly comentou, depois que André entrou e deu a partida. —
Sabia que pode ser morto por causa desse seu carro? Não sabe como Jequié tá
violenta?
— Bom saber que se preocupa com minha segurança — ele sorriu, pulando as
faixas, quando o som começou a tocar; If
looks could kill, de Heart, encheu o carro. — Quer ir pra casa ou quer uma
pizza? — perguntou André, ao parar na entrada para a Avenida César Borges.
Carly olhou para ele e pensou em recusar a pizza. — Prometo que é só isso. Não
é um encontro — continuou.
— Ok… mas quem morre de medo de relacionamentos é você — falou Carly,
quando André pegou a direita.
— Não tenho medo de relacionamento… E olha quem fala de medo. Está
solteira até hoje, com medo de ser trocada de novo.
— Para o carro — disse Carly e André olhou para ela. — AGORA! — ela
gritou e André parou o carro. Carly desceu e começou a andar na direção
contrária.
Ele saiu do carro.
— Carly Villaça, volta aqui — mas a moça continuou pela calçada deserta
da Avenida. — Se eu te deixar aqui, vai ser assaltada ou algo pior.
— Me deixa em paz! — disse
ela, com os braços cruzados, na frente do peito.
André acompanhou-a e passou a frente de Carly, segurando-a. Ela tentou
se desvencilhar, mas ele procurou os olhos dela.
— Sorry[i].
Não deveria ter dito aquilo. Entra no carro, Lyly, por favor... Sabe que é
perigoso — André olhou para os lados. A moça não olhou para ele, mas voltou
para o carro ao perceber a preocupação na voz dele. André fechou a porta e
entrou no carro. Ele sentiu raiva de si mesmo ao ver uma lágrima na bochecha de
Carly.
— Vou te levar pra casa.
— Não. Agora que me deixou triste vai pagar quanta pizza eu puder comer…
Já sentados a uma mesa, na Pizzaria Khaza
da Pizza, um garçom trouxe o
cardápio. Enquanto escolhiam, Carly avisou aos tios onde estava e que logo
estaria em casa. Ao desligar o celular, Carly viu um casal com um garoto no
caixa.
— Ah, droga — falou ela. André olhou naquela direção.
— São eles? — perguntou ele,
virando-se para ela. Carly confirmou, olhando para baixo. André passou o anel
de formatura para a mão esquerda e passou o braço direito pelos ombros de
Carly. — Olha pra mim — disse ele. Seus olhos encontraram-se e a moça sentiu o
coração palpitar. André refreou o impulso de beijar os lábios vermelho-melancia
de Carly.
— Oi, Carly — disse a moça de cabelos pretos, com franja, ao
aproximar-se, sorrindo. — Nossa, há quanto tempo. Como tá?
— Ótima — Carly sorriu. — E vocês?
— Bem — Marcele olhou para André e baixou os olhos, rapidamente, para a
mão esquerda dele que segurava o celular sobre a mesa.
— Esse é André Ferreira, meu... — Carly tentou fazer a palavra soar
natural — marido. Andy, essa é
Marcele. E aquele é o Douglas. E o filho deles, João Victor, né? Os dois foram
meus colegas.
Douglas acenou, de longe. André achou-o estranhamente familiar. Ele
apertou a mão de Marcele e disse que o filho dela era muito bonito. Marcele
agradeceu, sorrindo; despediu-se e saiu. Carly abaixou a cabeça e encostou a
testa no tampo da mesa. André segurou a mão dela, gentilmente, e depois de
alguns segundos, a moça levantou a cabeça, respirando fundo.
— Obrigada — disse ela. Os dois ficaram em silêncio. — Mas Marcele sabe
que é mentira. Douglas trabalha no Empório.
— É? Por isso o achei familiar — falou ele. — O que ele faz lá?
— Acho que assistente de RH.
— Quer que eu demita ele? —
perguntou André.
Carly olhou para ele, incrédula.
— Não sou déspota — sorriu. — Faria isso se eu pedisse?
— Claro — André sorriu. — Qualquer coisa pra te ver feliz, afinal é
minha amiga.
— Amiga? — Carly não tinha pensado em André como amigo. Mas,
considerando como estavam próximos nos últimos meses, talvez fosse isso mesmo.
— Não me considera teu amigo? — questionou ele, ofendido. — Ah, ótimo.
Depois de todo esse tempo, o que eu sou seu?
— Além de pseudo-esposo? — perguntou ela e eles riram. — Temos a relação
mais estranha de que se teve notícia.
A pizza chegou e eles agradeceram ao garçom. André ergueu o copo.
— Aos sabores do relacionamento.
Carly ergueu o copo e eles começaram a comer; André implicando com Carly
por ela comer tanta cebola, na pizza americana e ela, por ele gostar de queijo
catupiry. André pegou um guardanapo e limpou o queixo de Carly.
— Tava sujo de ketchup — disse ele, quando ela olhou para ele. Carly
baixou os olhos e André percebeu que constrangeu a moça. Ele pediu desculpas e
mudou de assunto, dizendo que a peça dela ficou incrível...
André estacionou na frente da casa de Carly, uma hora e meia depois. Depois
da pizza, eles passaram na Praça Rui Barbosa, para tomar sorvete. Ele pegou o
livro Razão e Sensibilidade e um
presente, no porta-luvas, e estendeu-os para ela.
— Obrigada por me emprestar. E espero que goste do presente.
— De nada. E obrigada. Não precisava. O show foi um dos melhores
presentes que já recebi.
Carly sorriu, abrindo o embrulho. Dentro havia um DVD. Ela abriu a
caixinha e a anotação, com a letra de André, na parte branca, dizia: O menino do
dedo verde.
A moça olhou para André.
— É o filme?
— Legendado — ele sorriu.
— Fez a legenda? — perguntou, incrédula.
— Tiago me ajudou e mandei pra minha ex-professora corrigir.
Carly não soube o que dizer, apenas agradeceu. Mas o gesto de André a
surpreendeu. Por que ele teria tanto trabalho por ela?
André desceu e abriu a porta para Carly. Ela desceu e eles olharam-se
por uns segundos.
— Vai entrar? — perguntou Carly, abrindo o portão.
— Acho que seria falta de educação não entrar, né?
Enquanto tomavam um café, André conversava com os tios de Carly. Tia
Salomé achou uma maneira de levar a conversa para relacionamentos e perguntou a
André quando ele pretendia casar. André não chegou a responder porque seu
celular tocou. Era o número de sua casa.
— Oi, mãe — mas não era Angélica, era Dora.
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