Olá, pessoal! Mais um capítulo do meu livro Laços. Se puderem deixar um comentário para eu saber o que acharam, agradeço muito! Se quiserem adquirir um exemplar autografado, me contate em @sorayafreireoficial
Capítulo Nove
O desfile foi no Espaço Wonderful
Woman, em Copacabana. Dos vinte e três modelos, seis eram de Lucy, seis de
outra estilista estreante e o restante da própria Miranda Roy. Carly aplaudiu
muito quando os modelos de Lucy foram apresentados. Tiago também não cabia em
si de tanto orgulho. Antes do fim do desfile, uma moça da produção veio
chamá-lo, para entregar um buquê de rosas à Lucy, quando Miranda chamasse as
outras estilistas ao palco.
Carly ficou impressionada com a quantidade de celebridades. Até que ela
divisou Anamary, com o esposo, Daniel. Ela foi, toda feliz, cumprimentar a
prima.
A Revista Quem Quer Saber
pediu fotos da família de Lucy, junta. Carly sempre ficava incomodada com
fotos, mas posou mesmo assim. A jornalista pediu os nomes de Carly e André e
perguntou se eram um casal.
— Ainda não — disse Anamary, sorrindo.
— Por que disse aquilo? — perguntou Carly, baixinho, enquanto iam para o
salão do coquetel.
— Vocês formam um casal tão fofo — continuou a prima e a outra balançou
a cabeça.
Carly e André ficaram sentados a uma mesa, à margem da festa, observando
as pessoas desfilarem pelo salão e dançar, na pista. Um garçom passou várias
vezes, com champagne, mas Carly
recusou. André perguntou ao garçom se ele poderia trazer dois coquetéis sem
álcool. O garçom disse que sim.
— Quer dançar? — perguntou ele e Carly recusou. — Vai ficar a noite toda
sentada aqui?
— Tem um monte de modelos ali, doidas pra falar com você — Carly olhou
para as moças, que não tiravam os olhos de André.
— Pena que não fico com modelos — disse André, olhando para elas. — Vem —
ele pegou a mão de Carly.
— Não, eu odeio dançar — falou ela, retesando-se na cadeira.
— Levanta — falou André, tirando o blazer, e amarrou-o na cintura de
Carly. — Se o problema era o comprimento do vestido — ele sorriu, levantando os
olhos, e encontrou os de Carly.
— Ai, Lucy vai me matar — falou ela.
— Ela tá muito feliz com o Tiago pra perceber.
Carly viu a irmã e o cunhado dançando, na pista de dança, e sorriu por
eles parecerem bem. O garçom apareceu; eles pegaram as taças, agradecendo, e
saíram para a varanda. Havia uma brisa agradável ali fora. Lá embaixo,
estendia-se a praia e o mar com suas ondas intermitentes. Na calçada preto e
branca, pessoas iam e vinham. Alguns quiosques abertos reuniam várias pessoas.
André tirou seu iPhone do bolso.
— Que música quer ouvir?
— Você não gosta das mesmas músicas que eu — disse ela, olhando para
ele.
André selecionou Lens, de
Alanis Morissette, na sua playlist.
— Ouve o retrato real do casamento.
Carly sabia que a canção falava sobre um casal sob o mesmo teto, que se
amavam, mas viviam uma batalha de egos e as diferenças estavam afastando-os.
— É vem tu com isso de novo —
falou ela, entediada. — Mas é o que ela diz. Ver as diferenças através das
lentes do amor.
— O amor não existe. É só uma coisa que Hollywood inventou. Repara. As
pessoas estão sempre frustradas ou decepcionadas. Elas querem uma paixão
ardente ou um romance “água com açúcar”. Então, o que Hollywood faz? Dá o que
elas querem: filmes com uma coisa ou outra, ou as duas. As pessoas vão ao
cinema, alimentam a bilheteria e a loja de pipoca e doces. Isso mantém a
indústria cinematográfica funcionando. Além da alimentícia, de remédios para
emagrecer, de antidepressivos… — Carly olhou para ele, incrédula, depois riu. —
O quê? Acha que sou louco?
— Acho — falou ela, convicta. — Só me diz uma coisa: quando ia se casar,
não era porque amava Lorena?
André ficou quieto, olhando para frente. Carly percebeu que pisara em
campo minado. Mas talvez o encontro daquela tarde tivesse mudado alguma coisa.
— Ainda gosta dela? — perguntou ela e André olhou para moça. Ela susteve
seu olhar. — Como foi reencontrar ela?
— Divertido — André riu e Carly achou estranho. — É. Sempre imaginei
como seria reencontrar Lorena, mas nunca pensei que seria fingindo estar
casado. E contigo, ainda por cima.
— Isso quer dizer que é bom ou ruim? — perguntou ela.
André aproximou-se de Carly e cochichou no ouvido dela:
— Ótimo, é claro — seus olhos encontraram-se, por alguns segundos. André
sorriu e Carly devolveu o sorriso, ruborizando. Outra música começou:‘Til you, também de Alanis. André
estendeu a mão para Carly e com o outro braço dobrado para trás das costas, fez
uma breve reverência.
— É uma das suas favoritas, né? — perguntou André, sorrindo. Ela sorriu,
fazendo uma mesura, e colocou a mão sobre a dele.
André colocou o braço direito em torno de Carly e ela colocou a mão
esquerda no ombro dele. Carly lembrou-se dos ensaios para festa de Lucy e
Tiago. Ela era péssima; parecia ter dois
pés esquerdos, como dizem. A professora de dança tentou fazer Carly
sentir-se mais confiante e leve. André foi totalmente paciente, apesar de poder
usar os jogos da Copa do Mundo para interromper os ensaios e descansar seus
dedos doloridos. Angélica sempre tinha um comentário sarcástico, sugerindo,
inclusive, que Lucy substituísse a madrinha. André ofereceu ajuda a Carly e
eles passaram algumas horas, à noite, na sala de piano, ensaiando. Carly nunca
agradeceu, então fez isso agora. André sorriu e disse que ela não tinha nada a
agradecer.
— Só precisava de confiança e não tinha isso com os outros, que foram
treinados na Brasilartes; nem com
minha mãe falando. Estamos quites — falou André, olhando nos olhos de Carly. —
Ah, obrigado pelo que fez no supermercado.
— De nada — ela sorriu.
André inclinou-se, encostando sua bochecha na de Carly. Ele podia sentir
o perfume dela e ela, o dele. Eles dançaram, assim, até o fim da música.
***
Carly não conseguiu dormir. Levantou-se, pegou um comprimido de
Valeriana e foi à cozinha, pegar água. André estava sentado no sofá, com a TV
ligada, lendo. Carly decidiu devolver o susto que ele lhe dera, um mês atrás,
na varanda. Aproximou-se e disse:
— Está gastando energia à toa por quê? — André olhou para ela e Carly
sorriu. — Sabe quantos litros de água são gastos pra gerar um quilowatt de
energia?
— Estou assistindo.
— E lendo — duvidou Carly. — Acho que é a primeira pessoa que conheço
cujo cérebro consegue se concentrar em duas coisas ao mesmo tempo.
— Para de ser chata — falou André, aborrecido.
Carly foi à cozinha e pegou um copo d’água. Ela sentou-se no sofá; ia
tomar um comprimido, mas André pegou-o.
— Devolve isso, Ferreira.
André foi para cozinha e jogou o comprimido na lixeira. Carly olhou para
ele, aborrecida.
— Não deveria tomar essas porcarias.
— É natural — rebateu ela.
— Natural, só água.
— Nem é. Isso aqui ‘tá cheio de cloro, flúor e outras bagaça — falou Carly, levantando o copo.
Eles tentaram, mas não conseguiram segurar o riso.
Os dois voltaram para o sofá. Carly percebeu que André estava lendo Razão e Sensibilidade.
— Pegou meu livro sem pedir...
— Tava aqui no sofá, nem vem —
André pegou o controle e começou a mudar de canal. — E você já terminou, não?
— Para, para — disse Carly. — Volta...
André apertou o botão para retroceder até Carly dizer “Aí”. Estava
passando Harry Potter e o Enigma do
Príncipe.
— Fala sério. Não abusa disso, não?
— Shiii. Fica quieto.
André recostou-se no sofá, com cara de tédio. Ele mudava o canal, às
vezes, só para Carly olhar para ele, com raiva. André ria e voltava. Carly
aborreceu-se e tomou o controle dele. Então André começou a dizer as falas.
— Pra quem odeia Harry Potter,
você sabe todas as falas.
— Eu era Potterhead — disse ele, displicente.
Carly ficou quieta, mas depois perguntou:
— Quem era sua namorada, que te fez queimar o livro?
— Tu parece do CSI — brincou
André, com a cabeça apoiada na mão, com o cotovelo no encosto do sofá. — Eu não
fico perguntando sobre seus ex-namorados, fico?
— Pois parecia bem interessado, ontem — rebateu ela.
— Brenda — falou André. — Minha mãe pirou comigo — fez voz de falsete: Você é louco? Nem se fosse o pior livro do
mundo! Não se queima livro. — E me colocou pra limpar todas as janelas, os
banheiros e cuidar do jardim. Deu um bônus, com minha mesada, pra faxineira e o
jardineiro.
— No fim, dona Angélica não é tão ruim quanto pensei — comentou Carly,
sorrindo.
— Ah, valeu pela consideração — disse André, sarcástico. — Fiquei com
raiva dela, porque foi pouco depois
do Pedro ter ido embora… achei que ela estava descontando em mim — eles ficaram
em silêncio, uns segundos. — Mas foi bom... pela jardinagem. Descobri que tenho
dedo verde.
— Já leu O menino do dedo verde?
— perguntou Carly, lembrando do velho livro remendado, de Maurice Druon, que
tia Salomé tinha e era um de seus preferidos.
— Li. Era do meu vô Ben. Ele lia pra mim quando eu era pequeno. Fiquei
com alguns livros dele, inclusive esse. Assistiu ao filme?
— Assisti, mas é em francês, então entendi lhufas... e você?
— No curso de Francês — ele confirmou.
— É fluente?
— Um pouco. Não terminei o curso, por isso Tiago fala melhor que eu.
Espanhol e Inglês já me enchiam o bastante.
— Me parece muito interessante.
— Por que a Jo estudou francês? — André sorriu.
— Também.
Os dois voltaram ao filme. André olhou para Carly. Ela tinha a tendência
de irritá-lo e ao mesmo tempo eles tinham muito em comum. Ele tinha que
reconhecer que gostava de conversar com ela. Carly percebeu que André estava
olhando para ela.
— O que foi?
— Nada — respondeu André, desviando o olhar para TV.
Carly ainda olhou, de soslaio, para ele, e se perguntou no que ele
estaria pensando.
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