Olá, pessoal! Mais um capítulo do meu livro Laços. Se puderem deixar um comentário para eu saber o que acharam, agradeço muito! Se quiserem adquirir um exemplar autografado, me contate em @sorayafreireoficial
Capítulo Seis
Carly entrou no apartamento de André, no oitavo andar do prédio Mansão
Margarida Costa Pinto e prendeu o fôlego. O apartamento era maior que sua casa,
com várias janelas e decorado lindamente. Não havia nada que identificasse a influência
de André ali, mas Carly logo percebeu o gosto refinado de Angélica. Ela não
pôde evitar exclamar o quanto era maravilhoso.
— É — disse André, puxando as malas dele e de Carly, ao entrar. — Meu
presente de dezoito anos. Está no meu nome, mas toda a família fica aqui quando
precisa vir a Salvador. Não gosto dessa cidade. Pro Tiago, um apartamento no
Leblon; pra mim, em Salvador.
— Com dezoito, eu fiquei feliz por, enfim, poder assinar um contrato e
trabalhar de verdade — falou Carly.
André ficou constrangido. Ele sabia que a moça perdera a mãe com
dezessete anos e começou a trabalhar, com dezoito, para ajudar a cuidar de
Lucy. Os tios davam tudo que precisavam, mas Carly era do tipo que não gostava
de incomodar nem de se sentir um peso.
— Vamos ficar sozinhos aqui, mas não tente nenhuma gracinha — continuou
ela, percebendo que André ficou sem graça com seu comentário.
— Acha que vou te atacar ou algo assim? — perguntou ele, rindo, e se
aproximou de Carly. — Ou tá com medo? Tá
com medo de olhar nos meus olhos... — Para — disse Carly, afastando as mãos
de André quando ele começou a fazer cócegas nela —, porque sabe que pode não
resistir... — cantou ele, olhando para ela, que estava vermelha.
— Está errado — falou ela. — Porque
sabe que não vai segurar... Tenho
medo de olhar nos seus olhos, porque sei que posso não resistir...[i]
— Então confessa — ele sorriu e ela levantou os olhos. Seus olhares
cruzaram-se e André parou, preso pelos olhos castanhos de Carly. Ela desviou o
olhar e ele afastou-se. Pegou as malas e saiu pelo corredor.
— Você pode ficar aqui — disse ele, ao abrir a porta da primeira suíte.
A moça entrou e viu que o quarto era tão lindo quanto a sala.
— Esqueci de pedir à faxineira pra comprar comida. Então podemos pedir,
sair pra jantar ou comer no Empório —
disse André. — O que você quer?
— Ahn... se quiser pedir, tudo bem.
— O quê? Pizza? Metade americana e metade espanhola?
— Pode ser — falou ela, sorrindo.
— Ok — André sorriu. — Fica à vontade. Mi casa es su casa. — Ele saiu e fechou a porta.
Carly ficou parada, ainda observando o quarto. Era tão estranho para
ela, todo aquele luxo. Era totalmente surreal estar ali. Nem em seus sonhos
mais loucos imaginou, um dia, estar no Mansão Margarida Costa Pinto, no
Vitória. Mas, ao mesmo tempo, era totalmente dispensável tudo aquilo; poderia
estar no seu quarto agora e seria ótimo — até melhor. Ela abriu a mala, pegou a
toalha e o sabonete, mas, ao entrar no banheiro, havia sabonete de várias
marcas e perfumes, além de toalhas felpudas. Carly ficou um pouco tentada a
usar a banheira, mas decidiu pelo não.
Ao terminar de se arrumar, ela voltou à sala. André estava sentado no
sofá, mexendo no celular. Ele tinha os cabelos meio molhados e vestia uma calça
cinza e uma camisa branca. Carly ainda achava estranho vê-lo com roupas tão à
vontade, já que ele sempre usava vestes sociais.
André observou Carly, com seu vestido longo, azul com florezinhas
brancas, antes da moça sentar-se. Eles ficaram em silêncio, enquanto Carly
assistia à novela, até André dizer que avisou Tiago que tinham chegado. Carly
disse que avisou Lucy também.
— Tô com fome — disse André. — Eles foram fazer a pizza nos Estados
Unidos ou na Espanha?
— Você reclama demais, Ferreira — falou Carly, olhando para ele.
— Odeio esperar.
— Nasceu de sete meses por acaso?
— Oito — falou André. — Passei um tempo na incubadora e quase morri.
Carly olhou para ele.
— Sério? — André balançou a cabeça, afirmativamente. — Não sabia disso.
— Tem muitas coisas que não sabe sobre mim, Villaça — André sorriu para
ela.
— Então, vamos fazer um jogo — disse Carly, mudando de sofá, para
sentar-se perto de André, que olhou para ela, esperando. — Tu pergunta alguma coisa que quer saber
sobre mim e vice-versa e depois, tem que responder a própria pergunta. Ok?
André concordou, mas o interfone tocou e ele foi atender. Era o
porteiro, avisando que o entregador chegara. A campainha tocou, dois minutos
depois, e André atendeu. Ele voltou com a pizza. Carly observou que ele pediu
suco de laranja para ela, seu preferido. Era uma surpresa para ela, André se
lembrar. Os dois sentaram-se em almofadas, no chão, e começaram a comer.
— Então, o jogo — lembrou o rapaz. — Primeiro as damas.
Carly sorriu.
— Qual sua cor preferida?
— Homens não têm cor preferida.
Carly olhou para ele, incisiva.
— Deixa de ser machista.
André sorriu.
— Talvez azul. E a sua?
— Azul.
— Qual seu filme preferido? — perguntou ele.
— Escritores da Liberdade —
falou ela. — Sabe, eu gostaria de ser como a Gruwell. Eu teria fugido daquela
escola, no primeiro dia. Mas ela tem vocação para ser professora e admiro quem
tem... E o interessante é que é uma história real e ela transformou a vida
daqueles jovens para sempre.
— Pensei que fosse Harry Potter... ou alguma comédia romântica, algo bem
meloso, tipo Vestida para casar.
Carly engoliu o pedaço de pizza que estava mastigando.
— Choro todas as vezes que assisto… — André riu. — E o seu?
— Não tenho um filme preferido, gosto de ficção científica. Assistiu Na Mira
dos Assassinos?
— Mas não é ficção científica... — Carly fez uma careta.
— Não, é que o cara... sabe, o marido… apesar de ter errado, ele está
tentando consertar as coisas, mesmo que a família não acredite mais nele. E
mesmo depois de arrancarem o dedo dele, o cara volta pra buscar a aliança.
Carly olhou para André por uns segundos.
— Gostaria que seu pai tivesse voltado atrás? — André não respondeu,
mudou de assunto:
— Só não diz ao Tiago que eu gostei de um filme B. Ele vai perder o
respeito por mim — ele riu. — Caso não morra, como se imagina com mais de
cinquenta?
— Era minha vez agora — tornou Carly e André sorriu. — Ahn... bom, eu
queria ser igual a Jane Austen, escrever muito... e morrer aos quarenta e um.
— Ah, vamos lá, pense em um futuro mais promissor — incentivou André.
— Tá bom. Daqui a cinquenta anos quero estar feliz, casada, com meus
quatro filhos e netos.
— Vai ter que escolher. Ou feliz ou casada — André sorriu e Carly deu um
empurrão de leve no ombro dele.
— E era uma pergunta — lembrou
Carly — e tu tem que responder à
própria pergunta. Está se esquivando, André Pedro.
— Quer saber uma coisa que odeio? — perguntou ele. — Que me chamem de
André Pedro.
Carly olhou nos olhos de André, mas ele desviou-os logo, voltando a
atenção para pizza.
— E você? Se acreditasse no amor e fosse se casar...
— Quem disse que não acredito no amor? — perguntou ele. — Não acredito
nessa baboseira romântica que tu acredita,
mas eu acredito no amor.
— Qual o nome dela? — soltou Carly.
— De quem? — André levantou os olhos do prato.
— Da sua ex-noiva — continuou ela, fitando-o. — Da mulher que fez você
se tornar um amargo e cético.
— Poxa, sou amargo e cético? —
perguntou André, rindo. — Quer saber o nome, o que aconteceu, por que não
casei... pra fofocar com suas amigas.
— Odeio fofoca — cortou ela.
André ponderou se deveria contar. Mas Carly parecia digna de confiança.
Há muito tempo que não falava sobre isso, mas poderia tentar.
— O nome dela era... é Lorena — disse ele, olhando para frente. — Eu
conheci ela na faculdade. Ela fazia
Moda e trabalhava, às vezes, como modelo. Eu me apaixonei e sabia que era a
mulher da minha vida. Namoramos um ano e eu a pedi em casamento. Seis meses
depois estava tudo pronto. Faltava uma semana e eu fui até a casa dela, para visitar,
como sempre. Ela estava de malas prontas para ir para Nova York. Devolveu o
anel e disse que não podia casar comigo. Aí, depois eu descobri que ela tinha
ido se encontrar com Edgar, que eu considerava meu melhor amigo.
Carly olhou para André, enquanto ele fitava o copo e depois verteu o
refrigerante. Ele estava tentando parecer displicente, mas parecia totalmente
incomodado. André olhou para Carly.
— Agora você.
— Eu o quê? — perguntou ela.
— Sei que teve um namorado e terminou. E ele casou logo depois.
— Ah, quem gosta de fofoca? — alfinetou ela. — Lucy deve ter contado pro
Tiago e ele pra você.
— É. Queria saber por que tu, sendo tão bonita e inteligente, estava
solteira.
Carly ruborizou. Não sabia que André a via assim — tão bonita e inteligente. Também não imaginava sendo tema de
conversa e interesse dele.
— Eu e Marcele éramos colegas e amigas desde sempre. Douglas entrou na
nossa sala, na sexta série, e se tornou nosso amigo. No primeiro ano, eu já era
apaixonada por ele. No segundo, ele quis ficar comigo — Carly olhava para baixo
enquanto falava. — Eu disse que não gostava desse negócio de ficar e ele me
pediu em namoro. Mas quando mamãe morreu e eu fiquei mal, ele foi se afastando.
Depois, ele terminou comigo e, na semana seguinte, descobri que estava com
Marcele... bem antes de tudo acabar, na verdade. O ano letivo acabou e, alguns
meses depois, soube que tinham casado porque ela estava grávida.
Eles ficaram em silêncio, enquanto André fitava Carly. Ela estava triste
e ele arrependeu-se de perguntar.
— Ele é um idiota — falou o mancebo e a moça olhou para ele. O rapaz
sorriu.
— Ela também — Carly devolveu
o sorriso. — Estamos melhor sem eles.
André concordou e eles continuaram comendo.
— Não preciso nem perguntar qual seu livro preferido, né? — perguntou
André.
— Não. Harry Potter... e o
seu? — devolveu Carly.
— São tantos livros bons... acho que A
Guerra dos Mundos, de H. G. Wells. — André serviu outra fatia de pizza para
ele e para Carly. — Qual seu maior segredo?
Carly olhou para ele.
— Que pergunta é essa?
— Vale qualquer pergunta, não?
— Não — declarou ela.
— Por quê? Você matou alguém? Mentiu pro
seus tios e saiu pra beber? — perguntou o rapaz, rindo. — Ah, então a certinha
Lyly tem um grande segredo — Carly olhou para pizza no prato, séria. André
observou-a por um segundo. Ele percebeu que ela ficara triste. — Estava
brincando, Carly.
— Não — disse ela e olhou para ele. — Não é um segredo, sabe. Mas eu
deveria ter contado a Lucy e nunca disse. Sobre nosso pai — André continuou
olhando para Carly e ela percebeu que poderia confiar nele. — Ele não foi
embora, simplesmente. Estava morando no Uruguai, com outra mulher, pelo que
minha tia soube. E morreu há dois anos.
André olhou nos olhos de Carly.
— Eu não sei como contar a Lu. Já ensaiei várias vezes e desisti — Carly
balançou a cabeça. André abraçou-a e ela aceitou o gesto. Depois, ela
afastou-se e os dois olharam-se nos olhos. Carly sentia o perfume de André
enquanto ele aproximava-se...
[i] Trecho de Amor que fica, gravada
por Zezé Di Camargo e Luciano, com participação de Ivete Sangalo. Compositores:
Tivas, Juarez e Roger.
Nenhum comentário:
Postar um comentário